Vozes d’África, uni-vos!

Brasília, de maio de 2011

O neocolonialismo na África é dinâmico e apresenta elementos novos, como a entrada de China, Índia e Brasil na disputa pelas riquezas, mão-de-obra e mercado do continente negro, antes território das potências europeias, da URSS e dos EUA.

As novas estratégias se mostram ainda mais perversas do que no passado: não se explora mais o trabalho escravo das minorias traficadas para as Américas e alhures. Agora a “bola da vez” é a promoção, o acirramento das antigas rivalidades tribais. As guerras com armas brancas do passado levavam homens aos campos de batalha onde sempre foram medido o valor e a coragem dos guerreiros. Hoje nações ricas usam e insuflam as antigas tensões para − no lugar de lanças-escudos, arcos-e-flechas − vender fuzis, metralhadoras, canhões, mísseis, tanques, aviões. Hoje a tecnologia da morte resulta no maior alcance e poder de destruição das armas. O combatente africano muitas vezes não vê quem está matando, ou quem vai matá-lo. E surge a pergunta: onde está a honra e a coragem em disparar um míssil... E tirar a vida de desconhecidos?

Mas... Se o colonizador promove guerras entre irmãos, por que não fazê-lo experimentar do seu próprio veneno? Se a ciência e a tecnologia são o poder, e a África ainda não os tem, por que não aproveitar as rivalidades entre as nações tecnológicas que saqueiam este continente?
Sabemos das diferenças históricas, culturais e governamentais de cada nação, porém a estratégia do não-alinhamento já foi apontada por um grande africano, o Presidente egípcio Gamal Abdel Nasser junto com seu colega indiano Nehru e o Presidente Tito da antiga Iugoslávia. Isso numa época em que o mundo só tinha dois senhores. Hoje a independência ideológica se tornou mais viável pela emergência de novas potências.

Propõe-se que cada país africano permita a exploração de suas riquezas no regime de contratos temporários entre nações concorrentes. Ex.: um país que possua petróleo na sua plataforma continental deve “fatiar” essa riqueza entre diferentes empresas (Shell, Chevron,Texaco, gigantes chinesas, Petrobras etc). A competição entre as nações ricas diminui o poder de cada uma delas no país hospedeiro e garante a este maior poder de negociação. Outra condição para a exploração das riquezas é a exigência contratual da formação da tecnologia e da capacitação africana nas áreas de interesse das respectivas nações. Trata-se de receber o estrangeiro para fazer o seu jogo e lutar com as suas armas, exemplo competentemente dado pelo Japão.

Resumindo: dividam os exploradores, promovam competição e rivalidades entre eles (é só acentuar as que já existem). Esta é uma das formas do soft Power contraposta ao hard Power do passado e do presente praticado pelas potências ocidentais.

A continuidade e o desenvolvimento do Fundo Monetário Africano é vital para este continente. Recursos gerados PELO continente e PARA o continente. Trata-se de gerar e administrar a parte financeira antes do avanço da onda consumista sobre a África.
O Coronel Kadhafi foi mártir a apontar caminho; manter a direção por ele indicada é ainda mais importante do que honrá-lo. Homens da sua estirpe e da de Nasser serão vitais para o desenvolvimento africano.

* Attila Blacheyre, Universidade de Brasília