Pela primeira vez, desde o início do ano, a inflação não aumentou em Moçambique, “registou, face ao mês anterior, uma queda do nível geral de preços na ordem de 0,22%”. Contudo o preço da comida continua alto, mesmo o das hortícolas e dos produtos de mercearia que em Abril o Governo decidiu baixar, entre 10% a 53%, os preços de referência para a sua importação como forma de mitigar a desvalorização do metical e o aumento de preços na África do Sul. “É só publicidade para dizerem que estão a trabalhar enquanto não estão a trabalhar nada”, disse ao @Verdade Sudekar Novela, presidente da Associação dos Mukheristas.

São 78 produtos frescos e de mercearia que desde 14 de Abril do corrente ano o Executivo de Filipe Nyusi decidiu reduzir os seus preços de referência de importação, devido a crónica incapacidade da agricultura local, como forma de mitigar o aumento dos preços no países de origem, assim como a depreciações do metical em relação às principais divisas.

Três tipos de batata (lavada, smal e não lavada) tiveram uma redução entre 33,3% e 42,3%, o custo de duas qualidades de cebola (vermelha e normal) baixou entre 24,1% e 35,7%, o tomate reduziu em 44,4%, os ovos 31,3%, a couve 45,5%, o pepino 42,9%, a alface 16,7% e até o repolho teve o preço de importação reduzido em 50% (sim Moçambique agora importa este alimento que os mais crescidos recordarão-se do seu apelido “se não fosse eu”).

Entretanto o Índice de Preços no Consumidor (IPC), do Instituto Nacional de Estatística (INE), mostra que, por exemplo, o preço do tomate que havia aumentado 11,5 em Janeiro, 5,9% em Fevereiro e 22,4% em Abril apenas diminuiu 7,6% em Maio, longe da redução do preço de referência de importação que reduziu 44,4%.

Outro exemplo do impacto quase nenhum desta decisão do Governo pode-se verificar no custo da cebola que aumentou 5,7% em Janeiro e mais 25,7% em Abril, contudo baixou apenas 0,04% um mês após a entrada em vigor desta medida que tem o seu término previsto para 31 de Agosto do corrente ano.

O preço do feijão manteiga, cujo preço de importação reduziu em 28,6%, tinha subido em Março 6,8% e mais 5,7% em Abril.

PREÇOS MÉDIOS DE REFERÊNCIA DE PRODUTOS FRESCOS HORTÍCOLAS

FONTE: Ministério da Indústria e Comércio. VALIDADE: 14 de Abril a 31 de Agosto de 2016.

Governo deveria “baixar as taxas 70% ou mesmo 60%”

@Verdade falou telefonicamente com o presidente da Associação dos Mukheristas, representante dos pequenos e médios importadores a quem esta medida foi direccionada, que revelou o seu desconhecimento em relação a ela embora o Executivo tenha afirmado na altura que reuniu e consensualizou com os importadores a redução nas taxas.

“(...)O Ministério tomou uma decisão sozinho, porque não é isso que está a acontecer no terreno. Não estamos a usar nenhuma tabela, até agora que falamos estão carros retidos lá na fronteira justamente por causa dos custos de pagamentos”, declarou Sudekar Novela. Novela afirmou ao @Verdade que tendo em conta a crise financeira e económica que o país está a viver e por estar evidente a dependência da importação de alimentos para os moçambicanos o Governo deveria “baixar as taxas 70% ou mesmo 60%”.

Outros dois grandes importadores de produtos de mercearia contactados pelo @Verdade também revelaram não conhecer a tabela completa dos produtos cujos preços de referência foram reduzidos, “julgava que a redução era só para hortícolas” comentou um dos nossos entrevistados que prefere manter-se em anonimato.

Moçambique importa até pão ralado

Efectivamente o @Verdade constatou que a tabela não está disponível para o público, a pouca informação acessível consta de algumas notícias publicadas na altura em que a decisão foi tomada e referiam-se apenas aos produtos frescos e hortícolas. A tabela completa, que o @Verdade aqui partilha, inclui outros 57 produtos alimentares de mercearia entre eles pasta dentífrica, bolachas, papas e leite para bebés, molhos, manteiga, amendoim e feijão.

O @Verdade esteve no Ministério da Indústria e Comércio mas não conseguiu apurar o critério que ditou a selecção de produtos, nem a fórmula de determinação das taxas, mas alguns produtos saltam à vista pelo seu carácter de pouca necessidade: copos descartáveis teve o custo de importação reduzido em 33,3%, creme para café baixou entre 20,3% e 27,7%, leite creme diminuiu 21% a 27,7%, o milho para pipocas tem o preço cortado em 29,2% e até o pão ralado (que não é mais do que restos de pão seco) Moçambique importa agora por menos 28,1%.

Embora os preços recolhidos pelo INE nas Cidades de Maputo, Beira e Nampula em Maio indiquem que o País registou, face ao mês anterior, uma queda do nível geral de preços na ordem de 0,22%, de Janeiro a Maio Moçambique “registou um agravamento de preços na ordem de 8,47%. A divisão de Alimentação e bebidas não alcoólicas ditou a tendência deste período ao contribuir no total da inflação acumulada com aproximadamente 6,81pp positivos”, refere o IPC.

Por outro lado os dados do Instituto Nacional de Estatística não corroboram a tese governamental de que a guerra está a contribuir para o aumento do custo de vida afinal o conflito até tem-se agravado mas a cidade de Maputo teve uma inflação mensal de -0,33% e as cidades da Beira e Nampula, que deveriam sentir o impacto do tráfego condicionado na Estrada Nacional nº1, registam inflação de -0,16% e -0,09%, respectivamente.

PREÇOS MÉDIOS DE REFERÊNCIA DE PRODUTOS DE MERCEARIA

FONTE: Ministério da Indústria e Comércio. VALIDADE: 14 de Abril a 31 de Agosto de 2016.