Privacidade e vida pública de Joaquim Barbosa, não é “casa de mãe Joana”
“Cresce rumor quanto interferência de Joaquim Barbosa na prisão de jornalista”
“Que horror! Correspondente do Estadão é presa e algemada nos EUA a pedido de Joaquim Barbosa!” Foi assim que passamos este último domingo, ao lermos dezenas blogs de “seriosos” e viróticos na internet em uma jogada muito mal orquestrada.
“Cresce rumor quanto interferência de Joaquim Barbosa na prisão de jornalista”
“Que horror! Correspondente do Estadão é presa e algemada nos EUA a pedido de Joaquim Barbosa!”
Foi assim que passamos este último domingo, ao lermos dezenas blogs de “seriosos” e viróticos na internet em uma jogada muito mal orquestrada.
Com esta notícia, em que uma jornalista foi presa de forma injusta, caberia ao Jornal Estadão, que a colocou na fogueira acionar a universidade de Yale. Existem tribunais para isto.
Com esta campanha contra Barbosa, tornam o fato um “factóide jornalístico” que retira toda a legitimidade de uma jornalista que poderia até acionar a Emenda n° 1 Americana, caso se sinta ferida em seu direito de liberdade de informação.
Com toda esta especulação vou acabar sendo obrigado a votar no Barbosa, pois de certa forma o estão obrigando a se candidatar para presidente.
Determinados jornalistas brasileiros, precisam saber que nós negros já estamos preparados para respondermos este papo de que “defecamos” na saída.
Vejam vocês que coisa complicada, é responder quando falo que faço defesa etno-racial do Ministro Joaquim Barbosa e digo que ele é uma possibilidade presidencial. Eu estenderia este conceito à autodefesa étnica, de todo um grupo que começa lentamente a se identificar como um povo e que deseja finalmente fazer parte desta nação que construiu.
Pessoalmente não sou de embarcar em defesa de paladinos da justiça nem de Batmans justiceiros conforme a classe média brasileira adora. Sei que muitos que hoje batem palmas para o Joaquim Barbosa, à primeira escorregada dele, vão dizer, “eu, não disse, não fez na entrada, mas na saída….”
Minha solidariedade com Joaquim Barbosa vai até o ponto que eu conheça as razões de seus atos, o faço assim com toda pessoa humana, até porque ainda não tive oportunidade de saber quais são as propostas ideológicas dele para o país, ou se as tem.
Agora, tanto faz para mim se um ministro da justiça negro ou um pm, um bandido ou um qualquer, quando percebo que estão sendo vítimas de racismo, eu grito.
Até porque mesmos os negros que como os caçadores de escravos, capitães de mato tenham permanecido do lado seus senhores, eles eram e sempre foram na história do Brasil, os primeiros sacrificados nos momentos de crise ou de partilha do poder.
Vejam os exemplos dos Lanceiros da Revolução Farroupilha, dos sobreviventes negros que participaram do genocídio contra os indígenas na guerra do Paraguai, do Gregório Fortunato e uma centena de exemplos que amealho ao longo de minhas pesquisas— negro que sirva ao senhor um dia se estrepa nas mão deste mesmo senhor.
Agora voltando ao Barbosa, só nestes últimos 2 dias contei 11 blogs “seriosos” plantando essa barriga jornalística, objetivando dar uma derrubada no Barbosa–agora agente de repressão americana— noutros blogs, “macaco metido à besta”, e nos mais emperdenidos blogs políticos–um negro mal agradecido– que não soube demonstrar gratidão ao seu “nomeador/alforriador”.
A jornalista disse, “telefonei para ele( o Barbosa) e ele disse que não queria falar comigo” e segue a jornalista…”disse então que o esperaria lá fora”. Mas que isto?
Já entrevistei até primeiro ministro alemão e o próprio Lula, mas sempre pedi licença, o Cabral não quis dar entrevista em Hamburgo, quando estava acompanhado de mais dois jornalistas da cidade e mesmo assim não fiquei esperando “ele lá fora”. Convenhamos, caros migos e amigas. Se jornalista pode enfiar o microfone na cara de um pobretão da favela, ou um presidiário algemado, com uma autoridade ministerial o buraco é mais embaixo.
Autoridade negra é igual a qualquer outra e “seu espaço privado ou público”, não é casa de mãe Joana.
Joaquim Barbosa, pude estar próximo algumas vezes no início da década de 80, junto com alguns advogados ligados ao movimento negro aqui no Rio. Ele era simpático ao movimento negro, mas nunca se aproximou muito.
Ele é um ou dois anos mais jovem que eu,. Posso até compreender porque ele fez essa carreira solo, sem deixar de ser negro, como a maioria dos que fazem carreira e ficam furtacor. Na justiça brasileira demonstrar sua cor é ser condenado a ficar na geladeira, mesmo entre os pares. Afinal quantos de seu pares o convida para jantar?
Fosse Joaquim Barbosa muito identificado com o movimento negro, nunca seria nomeado nem por Lula. O Brasil até que pode ter peles pretas no poder, mas está mais que demonstrado, que não está preparado para ter negros que pensem por si mesmo, ou que o demonstrem.
Agora, amigos e amigas, quanto à defesa eptelial, não é do meu feitio. Mas que tem um ranço de racismo quatrocentão embutido nesta jogada de desmoralizar um “símbolo negro” que vai aparecer outro deste quilate, sei lá quando, lá isto tem.
Aprendi na minha convivência com judeus e muçulmanos, vizinhos meus em Hamburgo nos últimos 25 anos, a defender o direito de não ser discriminado até do meu pior inimigo, depois podemos até sair na porrada.
Assim o faço na minha luta pelos direitos humanos, quero os algozes nas malhas da justiça, não justiçá-los.
Isto tem feito com que eu tenha sido imcompreendido a um primeiro momento por ambos os lados. São os ossos do ofício.
PS: acabo de receber uma relato da Jeruse Romão, que não vem a ser nem minha contra parente, apesar do mesmo sobrenome:
“Um dia encontrei-me com uma pessoa conhecida para tomar um café em Brasilia, lá pelos anos de 2003. Era Luiza Bairros, hoje Ministra da Seppir. Eu disse a ela que a forma como o STF tratava o Joaquim era absurda. Racista até. Sempre prestei atenção a isso, independente do que digam hoje e com o cenário de hoje. Fui assessora parlamentar por anos e convivi com parlamentares semi analfabetos (e branco) , sempre ser resguardou um certo respeito colonial para aquilo que se entende por ” autoridade”. No caso de Joaquim o comportamento colonial é às avessas. Trata-se de, na crítica contra seus atos, instigar subliminarmente sua origem ” inferior”, portanto, o fato de ser exceção no lugar que ocupa e de não está preparado para isso por ser preto. Todos querem falar com ele diretamente, como se todos estivessemos no mesmo lugar da piramide que ele.Não dá para não falar de racismo. Ainda que seus julgamentos sejam falhos- não sei- o que leva o teor das criticas conter tanto conteudo do repertório do estatuto colonial??”
*Marcos Romão é ativista do movimento negro no Brasil;
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