Fico pensando em que outro país sem guerra declarada de qualquer sorte, temos uma cota de perdas de vidas jovens com tanta recorrência. Mais do que pensar, me pergunto se o que temos em termos de números nesse sentido, e que infelizmente só fazem crescer quando recortamos para a classe e a cor da pele e quase sempre negra, seja qual for a nuance, vai continuar ignorada.
Fico pensando em que outro país sem guerra declarada de qualquer sorte, temos uma cota de perdas de vidas jovens com tanta recorrência. Mais do que pensar, me pergunto se o que temos em termos de números nesse sentido, e que infelizmente só fazem crescer quando recortamos para a classe e a cor da pele e quase sempre negra, seja qual for a nuance, vai continuar ignorada.
Hoje, ouvindo uma fala sobre a resposta das grandes empresas publicitárias sobre o não se ter peças com atores negros e negras pelo fato de os negros e negras não serem consumidores fortes de muitas marcas. Até porque, como parodiam de forma inteligente o pessoal do “Tá bom pra você?”, negro usa creme dental, sabonete, come margarina e tem família. Pode ser que muitos não saibam, mas as negras até vão aos salões e usam esmaltes, absorventes, são mães…
E assim seguimos aqui por nossa terra brasilis, quebrando pedra e dando nó em pingo d”água, só para dizer que apesar das insinuações, somos humanos e também merecemos respeito, ou melhor, merecemos viver. Acentuo os negros e negras porque somos a maioria nas favelas e periferias, áreas onde respeito à vida de quem lá vive não é muito a ordem de todos os dias
Gostaria de lançar um desafio, louco eu sei: e se nós, negros e negras não consumíssemos por um mês, é, só um mês, o que aconteceria? Se de uma vez todos os negros e negras do país fechassem suas contas nos bancos privados que nos invisibilizam?
Será que não faríamos tanta diferença assim no equilíbrio financeiro destas empresas? Qual seria o efeito colateral disso tudo?
Pois bem, assim também o é nas favelas. Ainda indesejadas e constantemente pensadas a partir da sua não mais existência nas cidades, o que fariam se os favelados ficassem um mês sem participar da vida das cidades. Sem ofertar sua mão-de-obra a ela, o que poderíamos esperar?
Mas isso são só delírios.O fato é que para mudar, temos de enfrentar frontalmente o que se coloca para nós e tentar transformá-lo. Muitos são os desafios para o Brasil real do qual nós, negros, negras, favelados, índios, viciados e viciadas em crack, pessoas em situação de rua, sem hospital, sem saúde, sem escola, como afirmou o sociólogo Pierre Bourdieu em relação à educação e eu, com licença poética, utilizo no atacado aqui, “os excluídos do interior”, somos brasileiros que ainda não obtivemos pleno direito ao Brasil.
Mas a gente chega lá, porque esperança é o que a gente tem de sobra. Se nos mandarem calar, a gente grita, e se quiserem nos fazer parar, a gente insiste. Para finalizar a história, em mais uma triste semana no Complexo do Alemão, gritamos juntos: “Caio, presente!!”
“A nossa luta é todo dia e toda hora. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”
*Monica Francisco é representante da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.
*AS OPINIÕES DO ARTIGO ACIMA SÃO DO AUTOR(A) E NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE AS DO GRUPO EDITORIAL PAMBAZUKA NEWS.
* PUBLICADO POR PAMBAZUKA NEWS
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