O racismo dos ‘bons’, dos ‘puros’ e dos considerados ‘ corretos’.

É com tristeza, mas convidada à reflexão que me dirijo a todos os amigos, colegas de trabalho e a nação brasileira, a respeito das acusações e comparações profundamente discriminatórias que são feitas ao ministro Joaquim Barbosa.

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É com tristeza, mas convidada à reflexão que me dirijo a todos os amigos, colegas de trabalho e a nação brasileira, a respeito das acusações e comparações profundamente discriminatórias que são feitas ao ministro Joaquim Barbosa.

Vi com profunda tristeza as vozes discordantes da sentença do ministro, chamando-o de ‘capitão do mato’, ‘traidor das cotas’ e outros deprimentes epítetos e comparações jocosas, que me fazem sair do meu silêncio e refletir sobre o racismo subjacente as práticas politicas e sociais que ainda permeiam a sociedade brasileira.

As pessoas não são obrigadas a concordar com as decisões do ministro, e podem e devem questioná-lo dentro do pressuposto democrático de que vivemos numa republica federativa, que enfrenta o grande desafio de abarcar e interagir com a diversidade imensa dos diversos ‘brasis’ que fazem parte do grande Brasil.

Porém no exercício da discordância, lembrar ao ministro que carrega no seu corpo e história as heranças afro-brasileiras, de que ele é um ‘ traidor negro, um anti-Zumbi ou mesmo um capitão do mato’, me faz refletir sobre o racismo dos ‘bons’, dos conhecidos por serem ‘politicamente corretos’ ou daqueles que dizem ‘ tenho um grande amigo, colega de trabalho e intelectual negro ’, não o vendo como ser humano na sua integralidade.
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O ministro Joaquim, eu e tantos profissionais que carregamos nos nossos corpos, a ancestralidade e história das nossas heranças afro-brasileiras, somos essencialmente humanos. E como tais, somos seres históricos que fazemos escolhas, construímos projetos, que podem ser odiados, aprovados e ou elogiados. É no exercício da nossa humanidade que fazemos as nossas ações no mundo.

Políticas de ações afirmativas não são ações de formação de guetos de negros ‘ cooptados’ a projetos de esquerda ou de direita. Tais políticas são o reconhecimento do Estado brasileiro da sua não capacidade de promover políticas de promoção de acesso aos direitos políticos e civis de forma igualitária. Não são uma concessão para os ‘ pretos’, e sim, o reconhecimento da discriminação no acesso a oportunidade e exercício dos direitos políticos e de acesso às políticas públicas de educação e saúde, que deveriam ser realmente para TODOS.

Convido a todos a refletirem sobre suas criticas quando acentuam a racialização das relações no Brasil ou quando exigem de negros e indígenas atitudes heróicas e acima da média, que outros cidadãos não se cobram em fazer.

Por isso reflitamos sobre o profundo racismo que cala fundo neste país, e que infelizmente está presente e para além dos lados ‘ bom’ e ‘mal’ das forças políticas.

*Patricia Teixeira é acadêmica, professora da Universidade Federal de São Paulo – Guarulhos.

*AS OPINIÕES DO ARTIGO ACIMA SÃO DO AUTOR(A) E NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE AS DO GRUPO EDITORIAL PAMBAZUKA NEWS.
* PUBLICADO POR PAMBAZUKA NEWS
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