Nenhum africano é estrangeiro
O filósofo, cientista político e intelectual camaronês Achille Mbembe, autor do livro Crítica da Razão Negra, escreveu ontem sobre a violência xenófoba na África do Sul, esse “cancro que metastizou”, nas suas palavras, chegando à conclusão que “a actual caça aos ‘estrangeiros’ é produto de uma complexa cadeia de cumplicidades – algumas vocais e explícitas e outras tácticas”. Na base de tudo, as acções do próprio governo que, “através das suas novas medidas anti-imigração”, tenta até ilegalizar imigrantes que estavam legais.
O filósofo, cientista político e intelectual camaronês Achille Mbembe, autor do livro Crítica da Razão Negra, escreveu ontem sobre a violência xenófoba na África do Sul, esse “cancro que metastizou”, nas suas palavras, chegando à conclusão que “a actual caça aos ‘estrangeiros’ é produto de uma complexa cadeia de cumplicidades – algumas vocais e explícitas e outras tácticas”. Na base de tudo, as acções do próprio governo que, “através das suas novas medidas anti-imigração”, tenta até ilegalizar imigrantes que estavam legais.
Num artigo publicado no site Africa is a Country, Mbembe afirma que, à diferença da última vaga de violência xenófoba no país, em 2008, quando morreram 72 estrangeiros, esta tem uns “rudimentos” de ideologia subjacente, uma “aparência de discurso destinada a justificar as atrocidades”, que são mais negros, que são usados pelos brancos que preferem explorá-los a contratar sul-africanos, que roubam os empregos aos sul-africanos, etc.
No entanto, “nenhum africano é estrangeiro em África!”, exclama Mbembe. “É a África que pertencemos todos, não obstante o disparate das nossas fronteiras. Nenhum chauvinismo nacional apagará isso. Nenhuma deportação apagará isso”, acrescenta.
Para o filósofo, em vez de derramar sangue africano, todos os africanos deviam estar a reconstruir o continente e colocar um ponto final a “uma longa e dolorosa história – que, durante demasiado tempo, tem ditado que ser negro (não importa onde ou quando) é uma desvantagem”.
Mbembe está convencido que cada golpe contra um estrangeiro na África do Sul “abre uma ferida enorme que nunca poderá ser curada. Ou se a conseguirmos curar, deverá deixar ‘nesses estrangeiros’ o tipo de cicatrizes que nunca mais poderão ser removidas”.
E, pergunta, como o governo sul-africano é incapaz de defender os estrangeiros desta violência, como nada faz para demover quem ataca, nem protege quem é atacado, será que não chegou a altura de apelar a uma autoridade superior para intervir na questão? “A África do Sul assinou a maior parte das convenções internacionais, incluindo a convenção que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional de Haia. Alguns dos instigadores da actuar ‘época de caça’ são conhecidos. Alguns têm feito discursos políticos a incitar ao ódio. Haverá alguma forma de os remeter para Haia?
A impunidade alimenta impunidade e atrocidades. É o caminho mais curto para o genocídio. Se esses perpetradores não podem ser trazidos à justiça pelo Estado sul-africano, não terá chegado a altura de apelar a uma jurisdição superior para que lidem com eles?”
*Achile Mbembe é filósofo
*AS OPINIÕES DO ARTIGO ACIMA SÃO DO AUTOR(A) E NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE AS DO GRUPO EDITORIAL PAMBAZUKA NEWS.
* PUBLICADO POR PAMBAZUKA NEWS
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