Neste breve artigo de análise, Helder discute o papel de ainda autoridade de Kadhafi e a influência que ele ainda tem sobre as forças na África.Ele destaca o papel do presidente da África do Sul, Jacob Zuma em formar uma aliança pelo fim dos conflitos na Líbia.
Jacob Zuma lançou mais um alerta para os perigos decorrentes do agravamento do conflito na Líbia. O impasse militar entre as forças leais ao regime de Muammar Kadhafi e os grupos rebeldes com sede em Benghazi parece não ter fim à vista.
O alerta de Zuma não teve por destinatários apenas os dirigentes líbios, protagonistas de uma guerra fratricida que ameaça a estabilidade de toda a região. O alerta visou os governos dos países membros da Nato que, a coberto de uma deliberação das Nações Unidas, daquelas feitas à medida de todas as necessidades e interpretações, abriu caminho a uma intervenção militar na Líbia, com bombardeamentos diários que destroem vidas e derrubam infraestruturas, e que ameaça tornar o país em mais um dos muitos barris de pólvora que tornaram o Oriente Médio, desde há muitos anos, uma região de permanente instabilidade e conflitos.
O desejo de Kadhafi segurar "manu militari" o poder que mantém há três décadas confronta-se com a vontade de algumas potências colocarem em Trípoli políticos líbios mais disponíveis para seguirem os ditames de centros de decisão europeus e norte-americanos, desejosos de garantir o controle ou, pelo menos, uma parcela de influência na exploração do petróleo do país.
Kadhafi, agora tornado proscrito pelo Tribunal Internacional de Haia – instância que curiosamente não é reconhecida por diversos países ocidentais, entre eles os EUA -, ainda muito recentemente era recebido com tapete vermelho em várias capitais europeias, entre elas Lisboa.
No último fim de semana, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma enfatizou a necessidade de se obter um cessar fogo, de modo a fornecer ajuda humanitária, proteger os cidadãos estrangeiros e "efetuar as reformas necessárias para a eliminação das causas da crise atual".
"No terreno, existe um impasse militar que não pode e nem deve durar devido ao seu custo horrível em vidas civis e ao seu potencial de desestabilização de toda a sub-região", avaliam os dirigentes sul-africanos, numa posição partilhada por outros líderes do continente.
Afinal, lembram, "o objetivo da resolução 1973 das Nações Unidas era proteger o povo líbio e facilitar o esforço humanitário”. Mais de três meses depois do início dos bombardeamentos da Nato, o objetivo continua a ser ignorado. Civis, de um lado e outro das "barricadas", continuam a morrer. Debaixo da metralha das tropas de Kadhafi.
*Helder Castro contribui com o África 21 onde este artigo apareceu primeiro.
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