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Maka Angola

As mães de 13 dos activistas do Processo 15+2 entregaram hoje uma petição ao chefe do Serviço de Inteligência e Segurança e Militar (SISM), general António José Maria “Zé Maria”, a apelar à sua consciência moral no sentido de pôr termo a alegadas “invenções” de acusações contra os seus filhos, em particular contra o tenente Osvaldo Caholo.

“Nós, as Mães das vítimas, vamos rezar para que em Angola terminem os abusos dos direitos humanos, a repressão, a pobreza e a desigualdade, que vós tão activamente perpetuais neste país”, escreveram as mães na carta.

Isabel Correia, mãe do tenente Osvaldo Caholo, falou ao Maka Angola sobre a iniciativa. “Fomos bem recebidas no SISM. Levámos mais de uma hora e meia a passar de gabinete em gabinete só para receberem uma carta”, enfatizou. 

O tenente Osvaldo Caholo deverá ser julgado em breve pelo Tribunal Regional Militar de Luanda, por extravio de documentos e divulgação de segredos militares, numa participação apresentada pelo general Zé Maria. Em Março passado foi condenado a quatro anos e seis meses de cadeia por actos preparatórios de rebelião e por associação de malfeitores. Esta última acusação foi introduzida na leitura dos quesitos, em substituição da acusação inicial de tentativa de assassinato do presidente José Eduardo dos Santos. Na realidade, o seu crime, no Processo dos 15+2, foi o de ter assistido a uma das reuniões do grupo de estudo na Livraria Kiazele, em Luanda. 

Segundo a nova acusação, o tenente Osvaldo Caholo acedeu a documentos confidenciais, em 2012, que se encontravam numa pen-drive do SISM, em uso pelo capitão Zenóbio Zumba, seu co-réu e, na altura, colega na universidade. 

Foi com esta relação que o general Zé Maria procurou demonstrar que os 15+2 não só haviam planificado actos de rebelião e de tentativa de assassinato do presidente da República, como tinham acedido a documentos militares confidenciais, através do tenente Caholo, para a suposta preparação do golpe de Estado.

“Segundo dizem, o tal documento referia-se a um levantamento das bases militares em todo o país e ao estado de defesa e segurança em Angola. Em tribunal mostraram-me, insistiram que estava no meu computador. Respondi que desconhecia o documento”, respondeu Osvaldo Caholo. 

No entanto, essa versão só foi mantida pela falta de acesso à informação por parte dos advogados de defesa de Osvaldo Caholo e devido ao silêncio do capitão Zenóbio Zumba, que esteve detido durante seis meses.

Osvaldo Caholo esclarece ao Maka Angola o que realmente se passou.

Osvaldo Caholo e Zenóbio Zumba foram colegas de turma em 2011 e 2012, no curso de Relações Internacionais na Universidade Técnica de Angola (UTANGA). “Eu nem sequer sabia que ele era do SISM. Sabia que era capitão porque, algumas vezes, foi às aulas fardado. Na verdade, tinha-me como ‘inimigo’, por causa das minhas ideias críticas ao regime, mesmo nas discussões académicas”, disse Osvaldo Caholo.

“Em 2012 fizemos um trabalho de grupo, mas o Zenóbio nunca me passou nenhuma pen-drive. Nunca tive o número de telefone dele, não mantivemos qualquer contacto e, desde então, só voltei a vê-lo na acareação, a 18 de Outubro do ano passado, ao fim de três anos”, contou o tenente.

Osvaldo Caholo explicou ainda que o Serviço de Investigação Criminal (SIC) apreendeu, em sua casa, a 24 de Junho de 2015, dois computadores portáteis. “O computador que eu usava na universidade, na altura do contacto com o Zenóbio, foi roubado nesse mesmo ano, em 2012. Logo, não podiam ter encontrado nenhuma informação.”

Dos computadores apreendidos, o seu estava inoperacional porque tinha o ecrã partido, e o outro, pertencente a um estudante, era novo e só tinha um documento: uma monografia desse mesmo estudante.

Na mais recente acusação, o Tribunal Militar afirma que Osvaldo Caholo confessou o crime de que é acusado. “Isso é mentira. É mais uma invenção. Mesmo na acareação, o Zenóbio disse que não sabia de documento algum ou de me ter entregado uma pen-drive”, disse Osvaldo Caholo.

“Vou defender o meu filho até ao fim. Ele é inocente”, rematou Isabel Correia.

Em defesa do interesse público, Maka Angola publica, abaixo, a transcrição da carta dirigida ao general Zé Maria.

A CARTA

O tenente Osvaldo Caholo (atrás à esq.) e Sedrick de Carvalho (dir.) durante o julgamento dos 15+2.

Ao General António José Maria

                                                                                                                                                                                                  Chefe dos Serviços de Inteligência e Segurança Militar 

Nós, enquanto Mães [de Afonso Matias “Mbanza Hamza”, Albano Bingo Bingo, Arante Kivuvu, Benedito Jeremias, Domingos da Cruz, Fernando Tomás “Nicola Radical”, Laurinda Gouveia, Hitler Jessy Chiconde “Itler Samussuku”, Inocêncio de Brito “Drux”, José Gomes Hata “Cheik Hata”, Luaty Beirão, Nelson Dibango, Nito Alves, Nuno Álvaro Dala, Osvaldo Caholo, Sedrick de Carvalho e Rosa Conde] todos eles acusados no famigerado Processo 15+2, dirigimo-nos a V. Excelência no sentido de apelarmos à Vossa consciência moral. 

Queremos saber: 

Por que razão congeminou esta acusação fraudulenta contra os nossos filhos?

Por que razão não se apresentou a testemunhar no julgamento dos nossos filhos, ao contrário do que fez no caso de William Tonet, em 2011.

E mais: quais são os documentos que acusa o nosso filho e companheiro Osvaldo Caholo de ter desviado? Por que inventou esta história?

Veja bem: não seria melhor preocupar-se com crimes reais, como o desvio constante, para fins privados, de carros do exército que deveriam estar à disposição dos serviços de inteligência militar? Certamente que, se os seus gabinetes dispusessem dos meios adequados (carros do exército incluídos), não perderiam tempo a inventar factos, e tratariam dos crimes reais.

Não vos esqueçais: Deus está sempre presente e acompanha as acções de cada um. Vós que quisestes ser um seu filho dilecto devíeis saber isso melhor do que ninguém.

Nós, as Mães dos injustiçados, vamos rezar em conjunto. Como disse o Papa Francisco: “Os direitos humanos são violados não só pelo terrorismo, a repressão, os assassinatos, mas também pela existência de extrema pobreza e de estruturas económicas injustas, que originam as grandes desigualdades.”

Nós, as Mães das vítimas, vamos rezar para que em Angola terminem os abusos dos direitos humanos, a repressão, a pobreza e a desigualdade, que vós tão ativamente perpetuais neste país.

E apelamos a todas as Mães com fé para que se juntem a nós em defesa da cidadania, e para que nas próximas semanas, em todas as Igrejas, Templos e Mesquitas, rezem a favor da paz e da justiça, e a favor dos 15+2.