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Certos analistas e pensadores de movimentos populares chamariam isso de golpe dentro do golpe. Embora se entenda o alcance dessa formulação, o que realmente significaria a destituição de Temer, uma marioneta dos reais “golpistas”, para a democracia brasileira e para as agendas de luta dos movimentos populares?

O jornal brasileiro Folha de São Paulo noticiou ontem (01/12) a cogitação que já muitos analistas previram: o provável fim do Governo Temer e uma eventual eleição do antigo presidente do Brasil, Fernando Henriques Cardoso do...  guess what? - PSDB.

Segundo essa matéria, se com Michel Temer a economia brasileira não mostrar reação positiva até março (2017) e não “imprimir a imagem de presidente que colocou em ordem as contas públicas”, fala-se de Henrique Cardoso como a opção que poderá vir a ser menos turbulenta na eventualidade de uma eleição indirecta. As actuais chefias do real partido golpista – PSDB – parecem não ter inquilinos à altura do Planalto, uma vez que estão todos com o rabo preso neste momento.

Na eventualidade deste cenário, que mais parece um filme de terror, se tornar real, como compreender que o movimento popular tenha concentrado a sua estratégia de comunicação no slogan “#ForaTemer”, esquecendo – ou ignorando – um movimento golpista com dimensões titânicas, que vai muito além do atual presidente?

Parece ser cada vez evidente que, tal como a Dilma foi vitima desse golpe, Temer foi claramente usado apenas como um trampolim, fraco, impopular e sem poder real, para a implementação de um golpe, sem parecer violar os preceitos constitucionais previstos na legislação brasileira, em casos de impeachment.

É claro que, mesmo que a economia continue na mesma ou piore, a aplicação de medidas impopulares que o atual governo tem vindo a tomar chega a ser benéfica para o PSDB já que, como avança a Folha, vai pavimentar o caminho para  que em 2018 os tucanos  tirem disso vantagem. Terão, contudo, as massas que têm aderido ao movimento anti-golpe e o publico simpatizante que o acompanha por outros meios, o entendimento de que com ou sem o pmdbista, a luta deverá ir para além da pretensão da caída do Michel?

Não sendo brasileiro e com óbvias limitações para compreender todos os “layers” em volta da complexidade da “questão brasileira”, parece-me necessária e urgente uma revisão das estratégias de comunicação e da forma como se molda a opinião pública em volta do processo - tanto no seio das militâncias populares como nas redes sociais e noutros meios de comunicação. O golpe, como as lideranças dos movimentos contestatários o sabem, não foi da arquitetura exclusiva do Michel Temer ainda que ele esteja muito longe de ser tonto ou inocente.

#ForaTemer SIM, mas e os outros?

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Boaventura Monjane é jornalista e ativista social moçambicano. É doutorando em Pós-colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

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