Moçambique: Um Ano Sem Nyusi
Um ano depois do actual presidente da República de Moçambique assumir o cargo, ainda são marginais as transformações por ele prometidas de tal forma que o contexto político, social e económico que Moçambique atravessa actualmente revela-se uma extensão do contexto anterior. Porém, é provável que Nyusi tenha ainda a expectativa popular do seu lado. Urge, então, pôr em marcha, enquanto houver tempo, as necessárias transformações ao nível do estado e do governo que resultem no alargamento da sua capacidade de imprimir manobras com impacto na paz e no bem-estar dos cidadãos.
Passa um ano desde que no dia 15 de Janeiro de 2015 Filipe Jacinto Nyusi tomou posse como o terceiro Presidente eleito por sufrágio universal em Moçambique, desde a instituição do multipartidarismo pela constituição de 1990. No entanto, são ainda marginais as transformações prometidas por Nyusi de tal forma que o contexto político, social e económico que Moçambique atravessa actualmente revela-se uma extensão do contexto anterior. Isto é, passa exatamente um ano sem as prometidas transformações de Nyusi.
No âmbito sócio-económico, respostas efectivas e eficazes por parte do governo ainda estão por vir. Para responder a derrapagem do metical o Governo introduziu medidas meramente paliativas com resultados a curto-prazo. É tão verdadeiro o argumento de que a derrapagem da nossa moeda também é resultado de um contexto internacional economicamente difícil associado ao fortalecimento do dólar americano (e a queda dos preços das commodities no mercado internacional), como também, tem mérito o argumento segundo o qual ao mais Alto Magistrado da Nação tem faltado estratégia e retórica suficientemente susceptível de esclarecer ao Povo, seu patrão, a relação causa-efeito entre a crise internacional e a crise doméstica.
É verdade que Nyusi herdou um País que já atravessava desafios estruturais complexos de natureza política, social e económica. A RENAMO e o seu líder, Afonso Dhlakama, recusaram pronta e firmemente os resultados das eleições gerais que culminaram com a eleição do próprio Presidente Nyusi e do seu partido FRELIMO. Enquanto se esperava avanços firmes rumo ao desanuviamento do contexto resultante das últimas eleições, Nyusi parece não possuir a fórmula de estabilidade política nacional. O Presidente continua refém de um discurso apelativo ao diálogo para a Paz, até então incapaz de se transformar em iniciativas concretas, com resultados no calar efectivo das armas e dos discursos belicístas tanto da RENAMO assim como da FRELIMO. A Paz e o diálogo esvaziam-se, cada vez mais, perante uma evidente falta de respostas por parte do Governo do dia. Moçambique segue em verdadeiro “estado de guerra”, não oficialmente declarada, embora com relatos de confrontos militares e de refugiados.
No campo social, a anterior governação também tinha deixado um legado por si só bastante desafiador. A pobreza provou ter aumentado e os números contrariavam os discursos do regime do dia, muitas vezes pregados à martelada. Os raptos (e a criminalidade no geral), com cumplicidade “comprovada” de agentes do próprio Estado, afectos essencialmente a Polícia de Investigação Criminal tinham-se tornado numa prática comum, sem resposta eficaz, a todos os níveis da hierarquia do Estado e do Governo. No entanto, os raptos continuam a aguardar pelas necessárias e urgentes transformações que exigem mão dura do Presidente Nyusi ao nível da hierarquia da polícia, por forma a possibilitar um verdadeiro combate a este fenómeno altamente vergonhoso para o País e com consequências graves para o tão almejado desenvolvimento sócio-económico.
Num contexto político, social e económico desafiador como o actual, com implicações directas no dia-a-dia do cidadão, ao contrário do silêncio que impera, impõe-se uma liderança activamente engajada tanto na busca de soluções viáveis como também no esclarecimento das massas sobre o verdadeiro estado da nação. Tal como defendia o Presidente Samora a necessidade de explicar ao Povo mesmo quando se está errado. Perícia idêntica exige-se ao Presidente Nyusi. O mais importante de tudo, falta ao País um verdadeiro rumo. A esperança de dias melhores, baseada em actos concretos vindos do mais alto nível da liderança do País.
Todavia, nem tudo está perdido. Nyusi ainda tem a expectativa popular do seu lado. Porém, urge pôr em marcha, enquanto há tempo, as necessárias transformações ao nível do estado e do governo que resultem no alargamento da sua capacidade de imprimir manobras com impacto na paz e no bem-estar dos cidadãos, pois só assim, daqui há um ano, o país poderá, eventualmente, celebrar “um ano com Nyusi”.