O grande aperto: geopirateando os restos comuns

Enquanto a Assembleia Geral das Nações Unidas se prepara para a Cimeira Ambiental de Junho de 2012 no Rio de Janeiro, a resposta global para os atuais conjuntos de crises em torno de “alimentos, combustíveis, finanças e aquecimento” está cada vez mais a dar ênfase à comodidade nas nossas vidas, escreve Pat Mooney. Em “Doutrina de choque” sobre erosão agrícola, colapso dos ecossistemas, extinção cultural e desaparecimento de gênero, Mooney discute as supostas terapias e os mais recentes retornos.

A Assembleia Geral das Nações Unidas está a preparar-se para uma cimeira de chefes de estado sobre questões ambientais, no Brasil em Junho de 2012. Denominada ‘Rio + 20’ para privilegiar a Cimeira da Terra de 1992, alguns críticos já chamam este notável evento de ‘Rio - 20’, no seguimento de “acontecimentos” globais que começaram com a conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano em 1972 propagando-se no Rio de Janeiro em 1992 e terminando de forma desastrosa em Joanesburgo em 2002. Retrospectivamente, o evento mais famoso em Estocolmo em 1972 foi um desastroso assalto a um banco no qual alguns trabalhadores foram raptados. Uma vez libertados, parece que alguns destes trabalhadores se apaixonaram pelos seus captores, sob um fenômeno psiquiátrico conhecido hoje em dia como “Síndrome de Estocolmo”. Contudo, olhando para os últimos 40 anos de eventos ambientais das Nações Unidas a verdadeira vítima da síndrome de Estocolmo foram as próprias Nações Unidas bem como a facção das organizações da sociedade civil raptada pelo carisma das cimeiras.

A Cimeira da Terra de 1992, no Rio, adotou a “Agenda 21", incluindo uma série de tratados e acordos, com o objetivo de conservar e restaurar a Biodiversidade, pôr fim à desertificação, acabar com a desflorestação e salvaguardar-nos das alterações climáticas. Quando os líderes se encontrarem novamente no Rio em 2012, ser-lhes-á dito que os desertos se expandiram, a biodiversidade esta a colapsar, apenas uma redefinição científica e fundamentada de “floresta” por parte de alguns governos, lhes permitirá fingir que a desflorestação esta a abrandar e que a questão das alterações climáticas está a aumentar em compensações e créditos.

A nova cimeira vai anunciar uma “Economia Verde”, oferecendo uma tecnologia para todos os nossos problemas ambientais e econômicos. Entre crises e caos, os governos crédulos e o público apavorado agarram imediatamente a “solução mágica”. Mas magia tem o seu preço – entrega do poder, bens e/ou princípios. É uma estratégia política clássica recentemente descrita por Naomi Klein em “A Doutrina de Choque”. Quando a adversidade acalmar a magia desaparece – e surge assim a soberania social. O actual conjunto de crises – alimentos, combustível, finanças e aquecimento – estão a preparar-nos para um clássico golpe sobre esses elementos do nosso mundo – e das nossas vidas – que têm ainda que ser modificados. Este golpe está já bem delineado e projectado para culminar em algum tipo de acordo global na Cimeira do Rio+20. Segue uma perspectiva de como esta doutrina de choque se irá desenrolar…

CHOQUE #1 – EROSÃO AGRÍCOLA

Mesmo quando mais precisamos, estamos a perder a maior parte da nossa diversidade de vida. 75% da biodiversidade agrícola está já extinta. Estamos a perder 2% de colheitas e 5% da diversidade de gado todos os anos. Hoje em dia, os preços extraordinariamente elevados dos alimentos podem oscilar mas nunca descerão aos níveis do final do séc. 20. A procura pela terra para o crescimento de agro-combustíveis, a especulação de conforto, a pressão do consumidor, a escassez de água e, acima de tudo, o caos climático asseguram que o fornecimento de alimentos continuará errático e dispendioso. A agricultura industrial já tornou a segurança dos alimentos a longo prazo uma escasso conforto. De 40 espécies de gado e 7.000 espécies de colheitas, a indústria trabalha apenas com 5 espécies de gado e 150 de colheitas (enfatizando principalmente 12 colheitas). Entretanto, os agricultores estão a gastar 90 bilhões de dólares por ano em fertilizantes sintéticos tentando, em vão, compensar os mais de 24 mil milhões de toneladas de terra destruídos pela agricultura industrial. Debaixo do solo, as mesmas explorações agrícolas sugam mais de 25% da água que os aquíferos ameaçados podem substituir. De mais de 35,200 espécies marinhas, a pesca industrial foca-se em apenas 336 espécies. 75% dos stocks globais de peixe estão totalmente explorados ou substancialmente a escassear. A agricultura está também a perder os seus polinizadores: as populações de aves dos prados da América do Norte baixaram 1/3 desde que Rachel Carson nos preveniu, em 1962, de uma Primavera silenciosa, e 40% das espécies de aves global estão em declínio. Na Cimeira de 2012 os governos não deveriam celebrar Rio+20 mas sim lamentar Carson-50.

CHOQUE #2 – COLAPSO DOECOSSITEMA

Não existem zonas marginais. Nos Estados Unidos, os pântanos contribuem com 20% de todo o carbono absorvido. O carbono global consumido pelos habitats costeiros é aproximadamente igual às emissões de gases de estufa no Japão. As denominadas florestas subutilizadas e as savanas desempenham um papel importantíssimo na nossa proteção do aquecimento global. 2/3 dos ecossistemas do mundo estão em perigo de colapsar.

CHOQUE #3 – EXTINÇÕES CULTURAIS

Os povos indígenas do mundo (apenas 6% da humanidade) alimentam mais de 50% da vida selvagem animal e vegetal nas florestas e savanas e, muitas vezes, são os únicos protectores das colheitas sobreviventes, gado e espécies aquáticas utilizadas na alimentação. Estes povos asseguram também os medicamentos que salvaguardam a saúde de 80% dos povos do sul do planeta. Ainda assim, 90% dos restantes 7,000 idiomas podem extinguir-se no fim deste século. A Humanidade está a perder um idioma a cada quinzena.

CHOQUE #4 – O GÉNERO EM DESAPARECIMENTO

As mulheres são as guardiãs da maior parte deste conhecimento. Mas a patriarquia dá
primazia à literacia masculina, o que significa que o conhecimento da mulher impregnado nas línguas locais – carregando o conhecimento em plantas específicas, solos, animais e ecossistemas – desaparece, ofuscado e não traduzido. Não estamos apenas a perder a mensagem; estamos a perder o mensageiro. O infanticídio feminino é algo pandêmico. Em 1990 Amartya Sem estimou a perda de 100 milhões de vidas.

Na china, para a geração nascida no final dos anos 80, o desequilíbrio entre gêneros foi de 108 rapazes para 100 raparigas. Na geração de hoje, este desequilíbrio é de 124 para 100. Diferentes proporções estão a aparecer na Índia e em outras partes do mundo. A diversidade que mais necessita proteção é a das comunidades femininas indígenas e rústicas. Devido a esta perda, a geração “baby boom” é a primeira geração na história a perder mais conhecimento do que a ganhar.

TERAPIA 1 – GEOPIRATARIA

A Indústria (e os seus governos) alega que para nos alimentarmos e para termos combustíveis para as próximas décadas, teremos que passar de uma economia de 'carbono fóssil' para uma economia de 'carbono vivo'. A mais ouvida e mais alarmante estatística é de que apenas 23,8 % da biomassa terrestre anual do mundo é adequada hoje em dia – o que significa que 76,2 % da nossa biomassa terrestre mantém-se intáctil. Rumores sobre a iminente “economia dos carbohidratos” arrastam-se há já algum tempo, mas novas crises e novas tecnologias fazem agora a sua oportuna chegada. Como um porta-voz de Cargill diz: 'Qualquer químico fabricado a partir de carbono em óleo pode ser produzido a partir do carbono encontrado em plantas.' Em jogo estão algumas (ou todas) as matérias-primas para as industrias de 8,5 trilhões de dólares de alimentos/forragem/fibras, de 2 trilhões de dólares de produtos químicos, parte da industria farmacêutica de 825 bilhões de dólares e, naturalmente, o valor estimado de 5 trilhões de dólares da industria energética.

O objetivo já não é produzir alimentos ou combustível mas sim criar e controlar a maior quantidade de biomassa possível. As estruturas das empresas estão a ser reconfiguradas. A maior parte das companhias energéticas lutam pela dominância com as companhias química e a agro-indústria/biotecnologia convencionais. A Exxon Mobil e a BP investiram recentemente cada uma 600 milhões de dólares em novas estratégias de biomassa. A Shell e a Chevron estão também a investir em tecnologias de biomassa, enquanto a BASF e Monsanto formaram uma parceria de 2.5 biliões de dólares fazer frente à indústria energética. A Unilever e a Kraft estão à procura de biomassa de algas como futura matéria-prima. Os “genes gigantes” tornaram-se os senhores da biomassa.

TERAPIA 2 – GEOENGENHARIA

A segunda cura mágica é controlar o termostato para abrandar ou atrasar as alterações climáticas. Faltando vontade política para adoptar duras estratégias, os governos do norte estão ansiosos por abraçar a Geoengenharia para contornar as alterações drásticas no consumo e no estilo de vida. Os esquemas da Geoengenharia incluem uma série de experiências fantásticas para transformar a biologia das grandes superfícies oceânicas, reestruturar as nuvens e bloquear os raios solares através de barreiras estratosféricas. Por mais absurdo que isto possa parecer (e os cientistas que o defendem admitem que os riscos são extremos e o sucesso incerto), o parlamento do Reino Unido e o congresso dos Estados Unidos realizaram recentemente audições solidárias as estratégias propostas.

Argumentando que os governos do mundo não vão alcançar um novo acordo multilateral para abordar efectivamente as alterações climáticas, geoengenheiros evocam uma nova “coligação de vontade” onde um punhado de governos e indústrias poderão usar a tecnologia para evitar as piores consequências provenientes do aquecimento global. Eles argumentam que a prova deste princípio é de que nós já conduzimos o planeta para a crise através da geoengenharia.

Os governos e as indústrias que nos colocaram nesta confusão, que negaram ou atrasaram os procedimentos em relação às alterações durante décadas, os mesmos que se recusam a tomar medidas substanciais hoje em dia e que não têm a coragem de dizer aos seus cidadãos para andar de autocarro, não têm nem a inteligência ou integridade de serem confiados com o controlo do termóstato do nosso mundo.

TERAPIA 3 – NANO-MANUFACTURA

A produção industrial está a diminuir para a escala nanométrica, a escala dos átomos, (um nanómetro = um bilionésimo do metro) tudo desde as rochas ao arroz. Quando tudo na natureza é visto como composto de átomos e moléculas, a tecnologia responsável pelos iPads poderia ser considerada a mesma tecnologia que gera vida.

Desde 2000, os governos gastaram 50 bilhões de dólares na pesquisa da tecnologia de nanoescala. A maioria dos prêmios Nobel da física e química têm vindo a trabalhar na escala nanométrica ao longo dos últimos 15 anos. Quando a Royal Society do Reino Unido levou a cabo a sua análise de nanotecnologia em 2004, a indústria comunicou que há mais cientistas nos arredores de Pequim a trabalhar em nanotecnologia do que cientistas em toda a Europa Ocidental - a um vigésimo do custo de cientistas europeus ocidentais. Cerca de 50 países têm já iniciativas nacionais de nanotecnologia e a disputa é para ver quais os países que não ficarão para trás.

Os relações públicas da nanotecnologia alegam que o mercado global para os 2.000 produtos (aproximadamente) que incorporam os materiais à escala nanométrica (nota: não o valor único da nanotecnologia em si) é cerca de 400 bilhões de dólares. Este valor, segundo dizem estes relações públicas, vai saltar para os 2,6 trilhões até 2014. Neste momento (sem esquecer a enorme capacidade da indústria para o exagero), a nanotecnologia pode chegar a representar até 15 % da produção mundial e ter o valor de mercado combinado das telecomunicações e informática e 10 vezes o peso do mercado da biotecnologia – e estar ainda no começo. Foi gasto mais dinheiro na investigação em nanotecnologia do que nos projetos Manhattan e Apollo, combinados. Com tanto dinheiro já gasto, os governos continuam a não pensar na saúde, no ambiente e na subsistência. Embora os nanomateriais se encontrem já nos alimentos, pesticidas, cosméticos, protetores solares e produtos têxteis a uma escala que poderá entrar na nossa pele ou órgãos não sendo detectado pelo sistema imunitário, não existem praticamente regras de segurança em lugar nenhum do mundo. A grande atracção da nanotecnologia para a indústria é que ela multiplica o uso da Tabela Periódica e altera grandemente os requisitos de matéria-prima. O valor dos presumíveis tesouros nacionais poderá subir ou descer rapidamente com as alterações na nanotecnologia.

TERAPIA 4 – BILOGIA SINTÉTICA

Segundo a indústria, para “ultrapassarmos o petróleo” teremos de construir uma biomassa única. Para os biólogos sintéticos, a vida é como Lego. A dupla hélice de ADN é apenas uma espécie de circuito químico que pode ser produzia em série. [1] Estes engenheiros (muitos deles não são formados em biologia) estão a tentar construir organismos auto-replicantes artificiais que podem fazer qualquer coisa. A biologia sintética não só pode produzir ADN como pode também ensinar a maquinaria da célula a ler o ADN de formas diferentes. [2] Os cientistas da Universidade de Cambridge induziram as células a ler nucleóticos de 4 letras em conjuntos maiores ou codões. [3] Em vez de 20 aminoácidos, dos quais apenas se produzem proteínas, este ADN com mais letras pode ter teoricamente 276 aminoácidos para misturar e combinar, com potencial para construir proteínas que não existem naturalmente - os blocos de construção formas de vida incrivelmente. Os cientistas construíram já hélices duplas de 5 e seis bases.

Há alguns meses atrás, J. Craig Venter chamou a atenção das manchetes mundiais por anunciar que estes cientistas do sector privado conseguiram construir “Synthia” – o primeiro microrganismo sintético e auto-reprodutor. Muitos cientistas consideram “Synthia” como o acontecimento científico mais importante desde a separação do átomo. Entretanto, o consórcio do iBOL (The International Barcode of Life) encontra-se a fazer o mapeamento do genoma de todas a espécies que conhecemos, colocando o mapa electrónico na internet e depositando uma amostra nos EUA. Uma vez concluído o mapeamento, será possível para os investigadores – equipados com a tecnologia auto-replicativa de Craig Venter – para transferir um esquema genético, ajustá-lo à vontade e construir novas formas de vida. Alguns argumentam que os bancos de genes, zoos e jardins botânicos – e programas de conservação – são redundantes. É teoricamente possível criar (e patentear) mais biodiversidade artificial num tubo de ensaio do que aquela que existe naturalmente na Amazônia.

Retorno Nº 1 – INDÍVIDUOS MASSIVAMENTE DESTRUTIVOS

Para a indústria, o fascinante efeito colateral da nova cura tecnológica é que quase qualquer pessoa, usando quase qualquer coisa, pode ser massivamente destrutivo. A reacção inevitável do estado é a busca de controlo em massa. Estarão as ferramentas de destruição maciça disponíveis tão prontamente? Os nanotubos de carbono são apenas transportados em quantidades mínimas, pois tendem a explodir em cargas maiores. O Óxido de alumínio, bastante utilizado pelos dentistas, também explode em forma de nanopartículas. (a força aérea dos Estados Unidos está a realizar testes com óxido de alumínio para despoletar bombas). Nanopartículas de ouro, entre 7 e 21 átomos, podem ser utilizadas como catalisador.

E então? De acordo com um dos vídeos mais vistos na internet, se colocarmos uma pastilha Mentos numa garrafa de 2 litros de Coca-Cola diet esta irá também explodir. Mas de todos estes materiais potencialmente explosivos – óxido de alumínio, nanotubos de carbono, ouro, pastilhas Mentos e coca-cola – apenas a coca-cola não
pode passar pela segurança do aeroporto. Quando as partículas forem reduzidas à nanoescala, os efeitos quânticos oferecerão potencial para mudar todas as características de todos os elementos. Isto muda quase tudo. A Rússia já fez explodir a primeira nanobomba – implosão de edifícios – a arma não nuclear mais poderosa do mundo.

Retorno #2 – MONITORIZAÇÃOEM MASSA

As novas tecnologias em nano-escala produzem - e exigem – monitorização social. E o custo e o trabalho de monitorização podem ser sustentados pelos consumidores. O exemplo mais óbvio é o Facebook, com 400 milhões mais membros. Tudo o que não conseguir constar no Facebook ou MySpace pode provavelmente ser encontrado em um dos dois blogs lançados por segundo na internet. A privacidade já não é uma “norma social”.

Entretanto, o YouTube faz o upload de 10 vídeos particulares por minuto. Este ano, de acordo com alguns analistas, o número de celulares em funcionamento no planeta será semelhante ao número de pessoas. A maior parte destes aparelhos possuem câmaras e um perturbador número usa GPS (Global Positioning System – Sistema de Posicionamento Global) que denuncia a sua localização. E estes transmitem o que comprar, bem como políticas e paranóias tanto a amigo como inimigo.

Os algoritmos de computador escolhem não só quem vai comprar o quê como também
influenciam a grande nuvem de dados na identificação de tendências emergentes e das tensões que podem, de alguma forma, tornar-se ameaças e revoluções.

Retorno #3 – MERCADOS EM MASSA

Novos desenvolvimentos na genômica e nas neurociências, criam novas oportunidades de rendimento bem como novas oportunidades estratégicas. O objetivo público é a cura de doenças, mas a oportunidade privada é elevar o desempenho humano enquanto o controlo aumenta. Estima-se que 1 em 10 pessoas possuí alguma perturbação física ou mental que alguém pensa que é precisa ser curada. Acrescentemos a isto 1 em 6 casais que experiência dificuldades em engravidar, e acrescentemos a isto os pais quererem escolher o sexo do seu próximo filho e o mercado de melhoria de desempenho é quase ilimitado. As clinicas privadas alegam agora que podem testar 150 desordens genéticas diferentes em embriões.

Mas parece que só não conseguimos controlar a pobreza, a população e o patriarcado! A melhoria vai ser, claro, dispendiosa… e perpétua. Chips cognitivos implantados vão facilitar as famílias a pagar as “actualizações” dos seus filhos. A melhoria virá com a introdução de uma sequência de terminação que irá render os pais estéreis até que estes possam renovar a sua licença para a próxima geração. Aqueles que recusam – ou não podem suportar – serem melhorados serão colocados de lado. Se alguém tiver um chip cognitivo no seu cérebro, quem tem o comando?

Retorno #4 – CORPORATIVISMO DA MASSA NACIONAL

Conluio entre as elites da indústria e governos não é novidade. Mas os elevados riscos
envolvidos na terapia de choque requerem níveis de coordenação extraordinários da
indústria/governo. Os governos querem a cura tecnológica (e uma negação plausível); a indústria quer os seus investimentos seguros, as suas responsabilidades controladas e quer monopolizar sem restrições os recursos naturais.

Com as novas curas tecnologias, o tamanho importa. O valor anual global de fusões de empresas em 1975 foi de aproximadamente 20 bilhões de dólares. Antes desta recente crise financeira, as fusões globais atingiram quase os 4.5 trilhões de dólares. A Indústria bem pode vir a optar mais por alianças ou consórcios nos próximos anos, a fim de evitar o escrutínio indesejável.

A propriedade intelectual bem como outras formas de monopólio tecnológico estão já a forçar novas alianças. Nos últimos anos, foram atribuídas patentes que incluem 1/3 da Tabela Periódica; 2/3 da produção industrial; e quase todas as espécies agrícolas. A patente americana 5,874,029 abrange métodos para a nanonização partículas. Esta invenção pode ser utilizada na indústria farmacêutica, alimentar, química, electrônica, catalisadora, de polímeros, de pesticidas, de explosivos e também em indústrias de revestimento – quase toda a economia. A patente 5.897.945, também americana, reclama nano-cilindros que contêm qualquer um de 33 elementos - mais de 1/3 das peças de funcionamento da Tabela Periódica. Enquanto isso, seis indústrias agrícolas candidataram-se – ou já adquiriram - patentes de genomas em massa de plantas que se alongam à utilização confortável da planta. Será que esta doutrina de choque global vai realmente funcionar? Muitas das terapias e dos lucros vão falar. No entanto, os fracassos tecnológicos podem ainda produzir lucros inesperados. Enquanto os governos se reúnem no Rio para marcar 20 anos de fracasso de liderança de ação, nós temos que nos lembrar que único antídoto para a nossa marcha de 50 anos em direção a uma primavera silenciosa, é outra luta de 50 anos por uma sociedade civil tudo menos silenciosa.

Notas:

[1] DNA – uma molécula celular de auto-montagem que contem instruções genéticas para o desenvolvimento e funcionamento dos seres vivos. DNA é feito de unidades simples denominadas nucleóticos que se unem por uma “espinha dorsal” feita de açúcar e grupos fosfatos. A estrutura do DN é uma dupla hélice.
[2] Biologia Sintética (também conhecido por synbio, genomica sintética, biologia construtiva ou biologia de sistemas) – design e construção de novas partes biológicas, aparelhos e sistemas que não existem no mundo natural e também remodelar sistemas biológicos existentes para realizar tarefas específicas.
[3] Cordão – uma série de 3 bases químicas ligadas numa ordem específica. Durante a síntese proteica é a ordem do codão que determina qual o aminoácido que será adicionado à proteína em construção dentro da célula. Cada cordão possui um código específico para um aminoácido.

*Pat Mooney é o Dirige o Grupo ETC.
**Este artigo é baseado numa versão publicada anteriormente por Canadian Dimension, foi gentilmente traduzido por voluntário do programa E-volunteers da ONU da qual a Fahamu/Pambazuka fazem parte.
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