"Na escola onde trabalho, nos deparamos até mesmo com a falta de papel higiênico"
A equação é simples: professores em situação precária de trabalho + superlotação das salas de aula + falta de infraestrutura nas escolas = uma educação que traz poucas perspectivas para alunos e mestres.
A equação é simples: professores em situação precária de trabalho + superlotação das salas de aula + falta de infraestrutura nas escolas = uma educação que traz poucas perspectivas para alunos e mestres.
Em greve há 77 dias, os professores seguem afirmando que “não tem arrego”. Conversamos com a professora Renata Hummel, que leciona sociologia há seis anos na rede estadual de ensino de São Paulo. Atualmente, ela divide seu tempo entre seus 700 alunos da zona oeste da capital.
Renata denuncia que, dentre os diversos problemas, as escolas convivem “até mesmo com a falta de papel higiênico”. Confira:
Brasil de Fato - Qual é a situação da educação no estado de São Paulo?
Renata Hummel - Como em outras áreas, a educação está passando por um desmonte, tanto na infraestrutura da escola como nos profissionais. Os professores têm um salário muito baixo, além de pouco investimento em sua formação. Eu, por exemplo, tenho 700 alunos. Como eu vou corrigir uma redação individual? A gente teria direito a um terço do salário para ficar fora da sala de aula realizando essas atividades, mas o governo não cumpre a lei do piso. Tudo isso somado gera uma situação muito complicada para a educação.
"Educação está passando por um desmonte"
O governo paulista também divide a categoria nas formas de contratação. Como isso funciona?
O governo fragmentou a categoria na “sopa de letrinhas”, o que gera divisões de direitos entre os professores. A categoria O, como a mais prejudicada, não tem direito à rede médica, e sofre com a quarentena e duzentena. Na quarentena, o professor é impedido de pegar aulas por quarenta dias após alcançar um ano de contrato. Se atingir dois anos seguidos de contrato, ele é obrigado a passar duzentos dias sem pegar nenhuma aula. A duzentena é uma sentença de fome para o professor. E o governo não se envergonha em citar textualmente que essa medida é tomada para não gerar vínculo empregatício.
No início o governo negou sua existência e posteriormente afirmou que sua motivação é política. Na sua opinião, esta greve é política?
O que não é politica? Eu dou aula de sociologia e um conceito básico é que tudo é política. Eu sempre converso com os meus amigos que até a forma como eu dou minha aula é política. O jeito como está configurada a escola é política. Por isso que não é apenas política partidária, longe disso. O que se coloca e o que se tira do currículo é política. Nesse sentido podemos afirmar que a greve é política.
Como está sendo o tratamento aos grevistas?
A primeira tática foi de negar a greve, apesar das 60 mil pessoas na Avenida Paulista toda sexta-feira. Posteriormente, conseguimos dois encontros com o secretário de Educação, com propostas que já haviam sido apresentadas na greve de 2013, mas que desde então não foram executadas. Além disso, cortaram o salário dos professores grevistas, o que fere um direito constitucional.
E quais são as reivindicações dos professores?
Reajuste salarial de 75%, porque não tem como sobreviver com o salário de R$ 12 por hora. Além disso, os professores reivindicam o fim da duzentena. A nossa ideia é conseguir efetivar toda a categoria, ou seja, acabar com essa “sopa de letrinhas” e conceder direitos iguais a todos. Também exigimos o fim do corte de verbas às escolas e do fechamento de salas, que causa uma superlotação com até 50 alunos em cada sala. Onde eu trabalho, nos deparamos até mesmo com a falta de papel higiênico. Também não temos folha sulfite, e o mato está nas alturas. E, por fim, a contratação de coordenadores para todas as escolas.
E como está a participação dos estudantes?
A participação estudantil está muito grande, estão comparecendo em todas assembleias. Acho que o grande diferencial dessa greve é a participação e a compreensão dos estudantes que nós não somos inimigos, mas que estamos do mesmo lado.
*AS OPINIÕES DO ARTIGO ACIMA SÃO DO AUTOR(A) E NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE AS DO GRUPO EDITORIAL PAMBAZUKA NEWS.
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