Universidade Popular dos Movimentos Sociais reúne-se em Harare: Movimentos e académicos dialogam sobre terra, sementes e alimentação na SADC

Nos últimos 15 anos, o programa de reforma fundiária que se desenvolveu no Zimbabwe corrigiu as desigualdades fundiárias coloniais e já serve de exemplo para os países vizinhos, como modelo de democratização da detenção de terra e participação económica alargada.

Entre 12 e 14 de julho, movimentos sociais e académicos do Zimbabwe, Moçambique, África do Sul, Gana, Espanha e de Portugal reúnem-se em Harare, para discutir e debater o estado da terra, das sementes, da alimentação, do clima e das pessoas na África Austral. O evento realiza-se sob a égide da Universidade Popular dos Movimentos Sociais, conhecida pelo acrónimo português, UPMS.

Os movimentos sociais exerceram uma influência preponderante sobre a reforma fundiária no Zimbabwe, e já são uma importante força de pressão, sobre governos do mundo inteiro. O défice alimentar da África Austral tem vindo a aumentar, nos últimos cinco anos. As alterações às leis das sementes e os impactos crescentes das mudanças climáticas também contribuem para o estado da insegurança alimentar na região.

O que pode a África Austral aprender com o processo de reforma fundiária do Zimbabwe? Como entender as políticas regionais relativas à terra, às sementes, à alimentação e à água? Que respostas podemos impor coletivamente, para lidar com os desafios que o Zimbabwe e a região no seu todo enfrentam, no que se refere à alimentação, à terra, às sementes, à água e ao clima? Estas são algumas das questões fundamentais a debater neste workshop da UPMS.

De acordo com o diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos: "Este workshop da UPMS reúne académicos e líderes de movimentos de camponeses, de mulheres e da habitação, para discutirem questões relacionadas com a terra, as sementes e a alimentação — alguns dos temas mais importantes e prementes, nesta época pautada pelo capitalismo neoliberal selvagem, a usurpação de terras e a especulação financeira de bens e terra.”

Só formando fortes aliança entre os vários movimentos sociais será possível desenvolver uma resistência eficaz contra interesses tão poderosos, acrescentou.

Os workshops da Universidade Popular dos Movimentos Sociais visam promover a partilha de conhecimentos nascidos da experiência, tanto no domínio da investigação académica como das lutas travadas no terreno. É um processo de alargamento, articulação e consolidação da luta contra a globalização neoliberal, o capitalismo, o colonialismo, o sexismo e outras relações de dominação e opressão; trata-se de repensar e renovar o conhecimento que serve de base para as lutas sociais e políticas, com vista a desenvolver novos paradigmas de transformação social do Sul Global.

Segundo Elizabeth Mpofu, presidente do Zimbabwe Organic Smallholder Farmers Forum (ZIMSOFF): “Este evento surge na altura certa. Vemo-nos confrontados com vários desafios sociais, económicos e políticos. Está na altura de nos sentarmos a analisar o percurso que já fizemos, desde 2000, e a realidade vivida nos nossos países vizinhos.”

Thandiwe Chidavarume, da Rural Women's Assembly, no Zimbabwe, disse que: “As agricultoras rurais exigem justiça climática, a participação na tomada de decisões e o reconhecimento do seu enorme contributo para a segurança e a soberania alimentar. Este evento proporciona um importante espaço de aprendizagem de partilha de experiências no sentido de encontrar as melhores soluções para estes problemas''.

Walter Chambati, diretor executivo adjunto do Sam Moyo African Institute of Agrarian Studies, entende este workshop como um espaço que “oferece a oportunidade de refletir sobre os êxitos e as limitações da reforma fundiária do Zimbabwe. Não há melhor plataforma para os movimentos sociais do sul global se reunirem e partilharem experiências sobre as questões relacionadas com a terra, a alimentação e a justiça climática, com o intuito de promover a soberania alimentar”

A oficina da UPMS em Harare é coorganizado pelo Zimbabwe Organic Smallholder Farmers Forum, o Sam Moyo African Institute of Agrarian Studies, a Rural Women's Assembly e o projecto ALICE do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

PARA MAIS INFORMAÇÕES

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