ONU investiga soldados franceses suspeitos de violentar meninas africanas

Relato das vítimas na República Centro-Africana causam horror e acendem alerta. Um comandante foi acusado de forçar meninas a terem relações com um cão

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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, tem sobre sua mesa um novo dossiê com possíveis casos de abusos sexuais na República Centro-Africana, desta vez atingindo a missão militar francesa nesse país. Em nota divulgada na quarta-feira, a Secretaria Geral da ONU qualifica como “alarmantes” as novas acusações de exploração sexual provindas da província de Kemo, no sul da ex-colônia francesa. A ONG norte-americana Aids Free World, que teve acesso a detalhes das denúncias, informou que num desses casos um comandante militar francês é acusado de obrigar quatro meninas a manterem relações com um cão, em troca de dinheiro.

Segundo a informação da Aids Free World, a britânica Diane Corner, representante-adjunta da ONU na República Centro-Africana, se reuniu no último sábado com líderes locais, com vítimas de abusos e com uma delegação da Minusca, a missão da ONU no país. Nessa ocasião, três meninas relataram que, depois de serem amarradas e despidas, foram obrigadas por um oficial francês a manter relações sexuais com um cão. Segundo seu depoimento, receberam 5.000 francos CFA (cerca de 30 reais). Os fatos ocorreram em 2014 e envolveram ainda uma quarta vítima, também menor, que morreu posteriormente de uma doença desconhecida.

Secretaria Geral detalhou na nota desta quarta que a denúncias recebidas correspondem ao período de 2013 a 2015. A ONU, através de suas agências locais, disse estar tentando averiguar “o número exato de denúncias e sua natureza”. Além do contingente francês, estariam envolvidos também soldados do Burundi e do Gabão. A ONU notificou a França a respeito das investigações abertas.

Os militares franceses participam da Operação Sangaris, iniciada no final de 2013 para deter o conflito entre milicianos Seleka (muçulmanos) e Anti-Balaka (cristãos). É a segunda vez que os soldados dessa força de paz são citados como autores de crimes sexuais. No ano passado, o Ministério Público francês iniciou diligências contra militares franceses após receber de um funcionário da ONU um documento preliminar sobre abusos cometidos em um campo de refugiados internos no aeroporto da capital, Bangui.

A Aids Free World informou também que o UNICEF (agência da ONU para a infância) entrevistou há duas semanas 98 meninas que alegam ter sido vítimas de abusos sexuais cometidos por forças militares internacionais. O órgão divulgou também uma denúncia apresentada na última segunda feita contra um soldado congolês pela mãe de uma adolescente de 16 anos estuprada em um hotel. O militar admitiu à polícia centro-africana que havia mantido relações com a menina em várias ocasiões, em troca

de valores equivalentes a 20 a 30 reais.

A ONU registrou no ano passado 99 denúncias por supostos casos de abuso ou exploração sexual, 20 a mais que em 2014. Segundo um recente relatório interno, a maior parte dos casos, 69, envolvem funcionários civis, policiais ou militares das missões de pacificação da ONU. Entre esses agentes, com uma forte presença de capacetes-azuis, os mais citados são justamente os que estão estacionados na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo. As outras 30 denúncias foram apresentadas contra funcionários não vinculados a missões de paz no exterior, e sim a agências humanitárias que trabalham para a ONU.