Em entrevista ao Bahia Notícias, Vilma Reis, presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado da Bahia (CDCN), afirmou que considera que a fala do governador Rui Costa sobre a ação policial que matou 12 pessoas no Cabula é o mesmo que dar licença para matar.
Em entrevista ao Bahia Notícias, Vilma Reis, presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado da Bahia (CDCN), afirmou que considera que a fala do governador Rui Costa sobre a ação policial que matou 12 pessoas no Cabula é o mesmo que dar licença para matar.
Ela participou da audiência publica realizada nesta quinta (26) pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia (OAB-BA) para discutir o fato. “A fala do governador foi desastrosa. Ela passou por cima de todas as prerrogativas legais. Um governador é o comandante chefe da polícia. Ele não pode, antes de qualquer investigação, se antecipar e tirar os mecanismos legais, o protocolo e liberar a tropa, pois, senão, ele abre a brecha para a ilegalidade”, afirmou. Vilma ainda afirmou que a polícia está sendo usada "para sustentar o narcoestado, o narcoparlamento e sustentar uma narcomunicação”. “A polícia ataca e o Estado se sente aliviado. A gente não vai admitir isso”, disse.
A presidente do CDCN declarou que a polícia vive uma “incompreensão histórica” e que a guerra contra tráfico é, na verdade, uma “guerra contra os negros”. “Eles não entendem que são massa de manobra. Acham que tem o poder, que tem que combater a população, tratar a população negra e pobre como inimiga”, afirmou. E seguiu dizendo que “a polícia devia ser o último recurso a chegar nas comunidades, mas tem sido o primeiro e único, muitas vezes. É importante que a política policial seja a última, não a primeira. E a população está com muito, muito medo. Como se vive com todo mundo? Você tá sempre à margem, pois tem uma força na sua comunidade que botou rótulo em todo mundo. O Brasil não tem pena de morte. A gente não vai permitir que um narcoparlamento venda o medo à sociedade e ande com os helicópteros entupidos de cocaína e estabeleçam o terror nas comunidades”, concluiu.
Vilma ainda disse que participou de manifestação ocorrida no dia 11 de fevereiro contra a ação e que pôde ver que os moradores estão assustados. “Não querem se pronunciar sobre nada. Se perguntam sobre como isso pode ter acontecido. Na manifestação, tinham mães que só faziam chorar. Tinha uma senhora que só repetia a frase: “Meu Deus, eu só mandei ele comprar uma pizza”.
Os jovens estavam com muita garra durante a manifestação. Depois, tiveram que ser levados pelos mais velhos, pois sabíamos que ela estava infiltrada por policiais”, contou. “Isso é um absurdo. Quer dizer, teremos que lutar dentro da própria democracia para conseguir a democracia. Eu ainda espero ver nesse país uma justiça restaurativa, ao invés de justiça criminal”, concluiu.
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