Reclamo em relação aos campos agrícolas do país.

Neste breve artigo, M’bana N’tchigna analisa o legado da questão agrícola em Guiné Bissau. O autor reflete sobre a situação agrária no sul da Guiné Bissau e como o desgoverno está prejudicando sobremaneira a produção do local e pondo em risco toda uma comunidade de base, em especial no que concerne à cultura do arroz.

Sótão do artista pobre, em seu cinismo, suspiro, vendaval, alarido, estenógrafas, aposento, altivez, guarnição, adegas.

Quando saímos da colonização, deveríamos avançar em relação à produção agrícola. Nomeadamente em relação à produção de arroz que é à base da alimentação guineense. Mas isso não aconteceu.

Quem não se lembra do agricultor de nome Siah Battn da vila (tabanca) de Cabuxanque na região de Tombali, sul de país, que foi premiado no governo de Luís Cabral pelo bom trabalho que desempenhava na produção de arroz nos anos de 1975/7?

Pois é, saliento que campos agrícolas que Siah Battn plantava arroz em abundancia continuam até hoje em Caboxanque. O que impede arroz voltar a jorrar nelas bem como em outros campos agrícolas em Guiné Bissau, é a diminuição de volume de água da chuva que permite essa planta de cereal desenvolver.

Eu sinto vergonha (creio que não só eu), vendo as coisas que poderíamos resolver, mas infelizmente não estão sendo resolvidas. Continuamos a receber ajuda de arroz de fora para complementarmos a nossa subsistência. É tudo que não precisávamos!

O governo guineense podia fazer algo simples que não fica caro para erradicar a fome e a extrema pobreza do nosso país. A meu ver, é erguer diques de contenção, (fitcha bolanhas di iagu salgadu) que não permitisse entrada de água salgada nos campos propícios a cultivo de arroz.

Feito essa tarefa os campos poderão ser limpos e preparados para plantação de arroz. Com volume da água doce que naturalmente cairia na época chuvosa e retida através dos diques de contenção, os campos ficariam inundados de água doce permitindo desenvolvimento de arroz de melhor qualidade.

Sinto-me e falo dessa forma, porque vivenciei essa realidade até aos meus 17 anos de idade vendo e participado com meu pai e irmãos nessa tarefa. Mas não é só o produto arroz que se colhe também, a reprodução de peixes, várias espécies de aves marinhas e a pesca de subsistência familiar é garantida em larga escala quando se fecha dique de contenção dum campo agrícola.

Quem viveu no sul da Guiné Bissau sabe que a água que vem da chuva pode permanecer no local através dos diques criados pelos agricultores por período de seis meses até mais. Tempo suficiente que permite a fertilização do solo que garante uma boa produção agrícola e a reprodução de aves aquáticas e migratórias na área.

Isso acontece entre povo braasa (balantas) habitantes da margem do rio Kumbidjá que passa pela região de Quínará, Tombali e as demais margens dos rios espalhados pelo país.

Os habitantes dessas regiões usam essa técnica. Embora rudimentar, mas conseguem erguer diques de contenção nas margens dos rios e conseguindo garantir boa produção de arroz que lhes atendem por um bom período durante o ano. Até hoje isso acontece no sul da Guiné Bissau. Perante essa realidade, pergunta-se:

Se o povo, com trabalho manual e rudimentar, consegue resultado agrícola nessa condição árdua, imagine se o governo ajudasse com máquina e técnica mais avançada? Não aumentaria significativamente a safra de arroz no país?

Parece que o olhar do governo, sobretudo em relação à agricultura, não enxerga a oportunidade que pode e deve criar com a finalidade de fornecer ao povo à oportunidade de erradicar fome.

O povo de sul já criou diques e plantaram bastante na Guiné. Apenas através do trabalho manual. Nomeadamente a tribo braasa (balanta). Ela já tem campos agrícolas limpos e prontos a plantar. Portanto, se o governo e o ministério de agricultura guineense adotassem política de apoio que forneça água através de fechamento de diques de contenção, sul voltaria a reviver anos de glória no que diz a respeito ao plantio desse serial. Com certeza. O sul do país pode ser celeiro de arroz novamente como fora há anos e saciando assim fome do país.

Está haver hoje necessidade alimentícia que mesmo nos anos da luta armada contra colonialismo, não havia no país. O que para mim não deveria acontecer! Lutávamos contra a dominação colonial. Éramos subjugados sim, mas não pela fome. A força da produção agrícola de arroz nos abastecia mais de que nos dias atuais. Hoje pode parecer lenda para quem não viu e só ouviu falar de arroz que se produzia no sul. Mas até aos anos de 1979, arroz produzido pela a força camponesa guineense naquela região do país, erra consumido em larga escala no capital Bissau além de ser utilizado para outros fins como na fabricação de cerveja, por exemplo.

Arroz que vinha dos campos agrícolas guineenses chegava a ser consumido em Cabo Verde. E chegava a metrópole da colônia portuguesa, Lisboa. Conclui-se que até anos de 1970 pelo menos, não havia fome em Guiné Bissau. Havia sim, o desperdiço e período de escassez.

Por que hoje essa produção de arroz caiu? É porque, pós-independência as coisas mudaram e precisávamos arranjar formas melhores de trabalhar e manter a produção em alta. O que governo não observou. Dessa forma todos os campos agrícolas que já eram limpos pelo povo para continuar a manter ou dobrar a produção perderam a força da produtividade. Faltou-se O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO por parte do governo e do ministério de agricultura,

É à hora de governo agir e ajudar o sistema agrícola do país a se erguer. A criação dos diques de contenção da água para irrigar campos férteis para mim contribuiria bastante para abundância pelo menos de arroz no nosso país.

Não houve evolução em relação a uma política agrícola que programasse a inovação no setor agrícola. O sector caiu na estagnação.

Guiné Bissau não pode continuar a ser refém e dependente da Europa economicamente.

Para finalizar peço ao governo guineense que olhe pelo menos para grande pantanal de Candjóla (bolanha di Candjóla) que fica no Sul próximo a Catió. É um dos campos agrícola entre tantos que conheço no país.

Até quando continuaremos sem altivez!

Reflitamos!

M’bana N’tchigna

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**Licenciado em Filosofia e bacharel em Teologia

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