Introdução à edição especial Relações Brasil & África - Avaliando o novo pretendente da África
Neste mês de julho, o Pambazuka News publica uma edição especial, pela primeira vez nas três línguas: inglesa, francesa e portuguesa, sobre as relações entre Brasil & África. O boletim recebeu contribuições de pensadores e ativistas de vários países, tanto do continente e quanto da Diáspora. Eles incluem: Moçambique, Gana, Estados Unidos, Brasil, Burkina Faso e África do Sul, dentre outros. A edição abrange questões que vão desde as relações históricas entre homens e mulheres libertos brasileiros que retornaram para a região do Golfo do Benin; a arquitetura herdada do Brasil para a África e, mais recentemente, os interesses econômicos do Brasil como a sétima potência mundial em “perdoar” as dívidas de alguns países africanos, conforme anunciado pela presidente Dilma Rousseff, em comemoração ao cinquentenário cúpula da União Africana, em Addis Abeba, em maio de 2013.
Neste mês de julho, o Pambazuka News publica uma edição especial, pela primeira vez nas três línguas: inglesa, francesa e portuguesa, sobre as relações entre Brasil & África. O boletim recebeu contribuições de pensadores e ativistas de vários países, tanto do continente e quanto da Diáspora. Eles incluem: Moçambique, Gana, Estados Unidos, Brasil, Burkina Faso e África do Sul, dentre outros. A edição abrange questões que vão desde as relações históricas entre homens e mulheres libertos brasileiros que retornaram para a região do Golfo do Benin; a arquitetura herdada do Brasil para a África e, mais recentemente, os interesses econômicos do Brasil como a sétima potência mundial em “perdoar” as dívidas de alguns países africanos, conforme anunciado pela presidente Dilma Rousseff, em comemoração ao cinquentenário cúpula da União Africana, em Addis Abeba, em maio de 2013.
Os artigos analisam essas relações acima mencionadas. No entanto, uma questão crítica que não deve ser deixada de fora da análise dos leitores é a questão fundamental da resolução de um conflito racial no Brasil. Embora esta edição nãoseja exatamente sobre as relações raciais, mas sobre as relações entre Brasil e África, a linha da raça permeia qualquer discussão sobre a liderança do Brasil como potência emergente. O racismo continua a impactar a vida dos afro-brasileiros em formas abertas ou clandestinas, apesar de um retrato do país como um paraíso racial, que o Brasil definitivamente não é.
A reflexão de PATRICK BOND aponta para a correlação que existe entre os recentes movimentos do Passe Livre no Brasil - o que tem atraído muita atenção da mídia nacional e internacional - com protestos na África do Sul na época da Copa do Mundo de 2010 no país. Na África do Sul protestos por melhores condições de vida e de melhorias na prestação de serviços continuam sem diminuir à vista. Mais criticamente, o povo da África do Sul sofre as consequências de ter estádios construídos que são verdadeiros elefantes brancos. Será que o fato de o Brasil abrigar os Jogos Olímpicos terminará da mesma forma que na África do Sul? Ou pode uma mobilização de forças sociais e políticas progressistas no Brasil evitar esse perigo colossal?
Os autores ADRIANA ERTHAL ABDENUR e DANIEL MARCONDES DE SOUZA NETO destacam que o Brasil tem feito grandes esforços na promoção do voto eletrônico e da cooperação judiciária em África, no entanto, argumentam que o governo brasileiro sob a presidência de Dilma Rousseff, também precisa ouvir e agir devido as demandas dos manifestantes brasileiros, uma vez que se trata realmente de uma democracia ágil. BOAVENTAURA DE SOUSA SANTOS reflete sobre os recentes protestos de movimentos sociais no Brasil e afirma que existe uma oportunidade imensa para as forças progressistas para o fortalecimento da democracia no Brasil. Movimentos de justiça social talvez progressistas na África podem aprender com o desdobramento movimentos de protesto social no Brasil.
Enquanto ODOMARO MUBANGIZI argumenta que "áreas estratégicas que tanto a África e o Brasil precisaM investir em incluem: industrialização, turismo, agricultura, desenvolvimento de infra-estrutura, especialmente energia, estradas, o transporte aéreo, o desenvolvimento de recursos humanos e cooperação Sul-Sul" - parece que está implícito que em grande parte desta cooperação Sul-Sul é um compromisso com políticas econômicas neoliberais, onde os lucros vêm em primeiro lugar e as pessoas último.
GARIKAI CHENGU destaca em seu artigo que o Zimbábue está a se beneficiar em muito do aumento do envolvimento com Brasília em termos de energia, mineração, agricultura, ou as políticas de redução da pobreza. No entanto, se olharmos para Moçambique como BOBBY PEEK aborda em seu artigo, existe aquilo que ele descreve como "neo-colonial de exploração em andamento" pelos BRICS - que, naturalmente, inclui o Brasil. O autor é da opinião de que organizações da sociedade civil envolvidas com questões de justiça social devem "reconhecer que o que os Brics estão fazendo nada mais é do que a mesma coisa que o Norte tem feito com o Sul, mas como resistimos a essas práticas do Norte, devemos ser inteligentes o suficiente para resistir a estas práticas de nossos companheiros de países do Sul ".
Da mesma forma o artigo de AMIGOS DA TERRA sobre o desempenho da empresa brasileira em Moçambique, a Vale do Rio Doce, ou a Vale, que foi privatizada em 1997 em meio a protesto de muita gente e da corrupção. Ela mantém laços estreitos com o governo brasileiro e está crescendo em Moçambique, onde o projeto Moatize se engaja na extração de carvão para exportação. No entanto, a população local da comunidade Chipanga foi realocada. Eles também enfrentam condições precárias de habitação e os trabalhadores foram empregados em contratos de curto prazo com poucos direitos. Ao lado disso, os meios de subsistência de 8.000 pescadores também foram prejudicados e há sérios danos ambientais, que mostram pouco as credenciais verdes do Vale. Será que estamos prestes a ver um novo colonialismo do Brasil para o Sul, ou seja, em partes da África?
JULIUS OKOTH percebe que o programa "Bolsa Família", em execução no Brasil pode ser um exemplo a ser seguido pelos governos africanos preocupados com a redistribuição de renda equitativa. No entanto, o autor ressalta que uma aliança com o Brasil não deve ser feita com os olhos fechados, como há também interesses de empresas brasileiras em expansão no continente.
Finalmente, em vários artigos históricos, somos lembrados por ALINTA SARAH, MAE-LING LOKKO, TREVOR HALL, MARCO ZOPPI sobre a necessidade de um olhar retroativo a inter-relações entre o Brasil e África, em particular sobre o patrimônio material da arquitetura brasileira dos retornados, que também trouxe sobre a africanização do Brasil, com a vinda dos escravizados para o outro lado do oceano. Fortes laços culturais que os afro-brasileiros mantiveram como consequência da escravidão também são examinados em alguns desses artigos.
Só o tempo dirá como a África se envolve com seu novo pretendente, o Brasil. Além disso, o tempo revelará até que ponto esse novo pretendente ou parceiro está buscando genuína solidariedade e da cooperação econômica que reproduz relações de exploração neoliberais ou busca transformar essas relações em um novo modelo econômico da sociedade que coloca a propriedade de produção nas mãos de pessoas comuns .
Além deste novo modelo econômico muito necessário, é necessário que os afro-brasileiros e africanos continentais através dos continentes de maneira semelhante que muitos afro-americanos e caribenhos africanos continuem a visitar o continente Africano e vice-versa. A língua (ou seja, as línguas coloniais herdadas pelo Brasil e pela África) não deve inibir essa troca física para a interação de pessoas, na forma de programas universitários de intercâmbio, colaboração sindical entre sindicatos na África e os do Brasil, bem como o intercâmbio escolar e entre os organismos produtores de ambos os lados do Atlântico, além de visitas turísticas. Tudo acima mencionado deve ser parte integrante de um forjar genuíno de relações do Sul para o Sul, em que as pessoas sejam orientadas para um maior entendimento cultural e justiça social e econômica.
*Alyxandra Gomes é co-editora do Pambazuka em língua portuguesa.
*Texto traduzido da versão em inglês por Alyxandra G. Nunes.
*Ama Biney, PhD. é editora chefe do Pambazuka News.
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