Aparato de Guerra Usado nas Demolições em Cacuaco
Sete helicópteros, forças militares, policiais e de segurança, estimadas em mais de 500 efectivos, tomaram parte numa operação de demolições do bairro residencial Mayombe, no município de Cacuaco, em Luanda, a 1 de Fevereiro passado.
Sete helicópteros, forças militares, policiais e de segurança, estimadas em mais de 500 efectivos, tomaram parte numa operação de demolições do bairro residencial Mayombe, no município de Cacuaco, em Luanda, a 1 de Fevereiro passado.
De acordo com os relatos dos moradores, o dispositivo militar e policial destacado no local de madrugada surpreendeu e causou pânico às populações locais. “Por volta das 5h00 da manhã, os bulldozers começaram o seu trabalho de desalojamento de mais de 5,000 pessoas”, afirmou Mateus Virgílio Mukito, um dos moradores.
Por sua vez, Pedro Sebastião, outro desalojado, disse ao Maka Angola que duas crianças morreram no acto. “Elas fugiam dos helicópteros assustadas e acabaram por cair numa vala de drenagem”. Esta informação foi corroborada por outros moradores. Segundo o interlocutor, devido ao pânico que se instalou na comunidade, nem sequer foi possível a realização do óbito no local. “Os corpos foram resgatados por uma equipa de bombeiros e transportados para a casa-mortuária, onde os familiares foram resgatá-los e fizeram o óbito num dos bairros periféricos de Luanda”, disse Pedro Sebastião.
O morador Paulo Miranda contou ao Maka Angola que “os helicópteros voavam a poucos metros de altitude”.
As demolições prosseguiram no dia seguinte, na presença de uma força mais reduzida, que incluía dois helicópteros, 15 carrinhas policiais, oito veículos da Polícia de Intervenção Rápida e quatro viaturas das Forças Armadas Angolanas (FAA).
“Isso é terrorismo de Estado. Desalojam as pessoas, de forma desumana, porque os indivíduos que estão no poder querem vender os terrenos aos milionários e aos estrangeiros”, lamentou Mateus Virgílio Mukito, um outro morador que ficou sem tecto.
No local, o cenário é desolador. Centenas de moradores mantêm-se nos escombros do que eram as suas habitações.
Vários moradores aceitaram ser transportados em camiões basculantes, com alguns dos seus haveres, para a Kaope-Funda, numa área de valas e relevo irregular, sem qualquer tipo de construção ou infra-estruturas básicas. Nos últimos dias, as autoridades têm abandonado milhares de desalojados do bairro Mayombe nessa zona, criando uma situação de potencial desastre humanitário.
Teresa Paulina repousava nos escombros, com uma chapa a cobri-la e ao seu recém-nascido do sol. Deu à luz ali mesmo, nos escombros. Não tinha palavras para descrever a situação em que se encontrava. Pouco mais disse, para além do seu nome. Os moradores confirmaram mais dois partos ocorridos durante as demolições, sem que as autoridades tivessem manifestado qualquer compaixão ou preocupação em evacuar as parturientes ou prestar-lhes alguma assistência no local.
O responsável da ONG SOS Habitat, Rafael Morais, que se fez presente ao local, abordou a administradora municipal de Cacuaco, Rosa Janota Dias dos Santos, sobre as demolições. “Ela [administradora] respondeu de forma arrogante, tendo afirmado que ‘se a SOS Habitat trouxe casas para distribuir, então estamos [o governo] prontos a ajudar a distribui-las’. Se fosse apenas para fazer perguntas então que deixássemos o governo organizar as populações”, disse.
Maka Angola não teve sucesso na sua tentativa de abordagem das autoridades locais.
*Artigo primeiro publicado em http://makaangola.org/2013/02/05/aparato-de-guerra-usado-nas-demolicoes-em-cacuaco/
**Alexandre Neto contribuiu com Makaangola
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