No cinquentenário de assassinato de Patrice Lumumba por forças imperialistas no Congo, Ama Biney presenteia a nós leitores com esta interessante carta a Patrice na qual ela faz uma profunda análise da situação política no Congo e por extensão a todo continente africano em sua luta por liberdade e justiça social.
Meu querido Patrice,
No 52º aniversário de seu brutal assassinato em 17 de janeiro de 1961, o seu povo, constituído por 60 milhões de pessoas, ainda não sabe o que seja paz, justice ou liberdade. O povo continua a sangrar profusamente até morrer. O estupro virou uma arma de guerra contra milhares de mulheres congolesas. Entre agosto de 1998 e abril de 2007, mais de seis milhões de congoleses morreram de atrocidades impronunciáveis, doenças, fome e subnutrição. Esta estatística é quase o número de judeus mortos no holocausto, o que nos leva a questionar: será que é porque eles são africanos de pele escura que faz com que a humanidade global responda com paralisia e indiferença? E se eles fossem europeus, teriam os assassinatos sido evitados ou diminuídos? Certamente a catástrofe sem precedentes no Congo tem proporções similares aos genocídios no Camboja e em Ruanda, a guerra no Vietnam, às guerras na Europa conhecidas como Primeira Guerra Mundial e Segunda Guerra Mundial e a guerra nos Balcãns. Se você estivesse vivo hoje em dia o que você diria para as mulheres congolesas que foram estupradas por gangs de copatriotas congoleses? Como você confortaria as crianças deixadas em orfanatos por uma multitude de senhores da guerra depravados que procuram apenas seu auto-engrandecimento e enriquecimento pessoal a partir das riquezas do Congo? O que você diria para as centenas de crianças de rua, para a juventude sem educação e desempregada que foram seduzidos pelos exércitos rebeldes a cometer crimes horríveis contra seus compatriotas congoleses? Como é possível que depois de 50 estranhos anos de uma chamada independência a expectativa de vida de uma mulher congolesa seja de 47 anos e a de um homem congolês seja de 42?
AS RIQUEZAS DO CONGO SÃO VITAIS PARA OS PADRÕES DE VIDA OCIDENTAIS
Che Guevara estava certo quando ele escreveu em seu diário de 1965 que “ O problema do Congo era uma problema mundial” [1]. Além do mais, Che também poderia ver que “A vitória no Congo teria repercussões através de todo o continente, assim como a derrota” [2]. De fato, o Congo ainda permanece como um problema mundial, quando ele continua a fornecer 64 por cento das reservas mundial de columbita-tantalita usada em telefones celulares, laptops, marca-passos, vídeo câmeras, motores, aparelhos de próteses, foguetes, aparelho auditivo, dentre muitos outros produtos[3]. A maioria destes produtos só pode ser comprada no mundo desenvolvido, ainda que a matéria prima esteja localizada no Congo. Isso reforça a realidade de que os africanos produzem o que eles ainda não consomem, e consomem aquilo que não produzem. Colocando isso diferentemente, os estilos de vida de consumo da maioria dos ocidentais são dependentes da exploração barata dos africanos e da riqueza da África, enquanto que a maioria dos africanos continua empobrecida devido às conexões estruturais desta relação. Nada mudou muito desde a era do colonialismo. No século XIX, os congoleses eram forçados pelos belgas em condições selvagens a produzir quotas de borracha, época em que mais de 10 milhões de congoleses morreram e muitos perderam seus membros por não conseguirem atingir a meta de produção. Agora a pilhagem e o saque de columbita-tantalita por grupos rebeldes no Congo, com seus apoiadores em Ruanda, Uganda, Estados Unidos e Grã Bretanha, e várias companhias multinacionais ocidentais lucram enormemente desta riqueza a expensas do povo congolês que vê muito pouco desta riqueza investida em seu país. Ao passo que os indivíduos veem a troca de celulares como um direito natural, parece que agora os diamantes de sangue convivem com a columbita-tantalita de sangue.
A OMNICIÊNCIA DE NKRUMAH
O seu colega íntimo, Kwame Nkrumah, escreveu sobre o desafio do Congo. Você e eu sabemos que muitos desses desafios continuam ainda hoje em novas e complexas permutações; o desafio de criar e sustentar um governo democrático centralizado ou federalizado no qual todos os grupos étnicos do Congo tenham voz no governo; que os fenomenais recursos econômicos do Congo primeiramente venham ao encontro das necessidades das massas congolesas ao invés de serem jogados para fora do país para atender aos interesses de estrangeiros; que os imperialistas estão totalmente conscientes do fato de que o Congo – do tamanho da Europa ocidental – faz fronteira com nove países africanos e que quem controlar o Congo, controla a África. A balcanização, a desunião e a secessão da África são tragicamente epitomizadas no Congo, o que Nkrumah enfaticamente pregou contra cautelosamente. No dia 8 de agosto de 1960 Nkrumah declarou à Assembleia Nacional de Gana: “Se permitirmos que a independência do Congo seja comprometida de alguma forma por forças imperialistas e capitalistas, nós iremos expor a soberania e independência de toda a África a um grave risco. A luta do Congo é a nossa luta. È nossa incumbência ficar do lado de nossos irmãos no Congo, totalmente conscientes de que somente a África pode lugar por seu destino” [4]. As palavras de Nkrumah ainda são relevantes hoje em dia, assim como foram em 1960. Hoje pergunta-se: porque será que não encontramos um líder africano que ecoe as palavras de Nkrumah e seu compromisso em relação ao Congo? A realidade é que falta não somente uma liderança coletiva revolucionária e de visão na África, mas uma unificação continental é difícil de visionar quando Zimbábue, Angola, Uganda, Burundi e Ruanda ainda apoiam um ou outro grupo rebelde guerrilheiro no Congo ou que o governo congolês por seu próprio interesse nacional junto com interesses estrangeiros procurou se beneficiar da exploração da enorme riqueza mineral do país. Também é igualmente difícil chegar a um objetivo comum quando uma pequena classe de burguesia consumista africana continua a existir nas mãos de seus antigos mestres coloniais e está presa na complexa armadilha de arranjos bilaterais e multilaterais que ainda mais subordinaram a África á complexa economia global neoliberal.
CONVULSIONANDO SEUS TÚMULOS?
Em 8 de agosto de 1960 você fez um acordo secreto com Nkrumah afirmando sua “determinação coletiva de trabalhar o mais próximo possível em associação com outros estados independentes da África para o estabelecimento da União dos Estados Africanos, com uma visão de liberação para toda a África do colonialismo e do imperialismo [5]. Tragicamente o acordo nunca foi implementado devido a um colapso de seu governo e de seu assassinato nas mãos de belgas e americanos.[6] Você e Nkrumah, ambos visionaram que os estados africanos independentes estabeleceriam um “ Alto comando combinado de forças militares que poriam fim rápido e a retirada de tropas estrangeiras do Congo” [7]. Bem, isso não aconteceu. Desde o fracasso do Congo, talvez você e Nkrumah estejam convulsionando em seu túmulos em cima do que está acontecendo não somente no Congo, mas em muitas partes da África onde o neo-colonialismo entrincheirou-se dentro nos poros e solo da África assim como no psiquismo dos africanos. O Alto Comando Africano de Nkrumah foi parodiado na pelo AFRICOM, COMANDO AFRICANO liderado pelos Estados Unidos da Agressão – América, estabelecido pelo antigo presidente George Bush Jr. Agora ele é liderado por Barack Obama que descente de um pai queniano e uma mãe americana e que agora rede serviço aos interesses imperialista sob a parra de AFRICOM. Embaixo de palavras-chaves tais como “segurança mútua”, “cooperação”, “pirataria na Somália”, “exercícios militar conjunto de treinamento”, a luta contra a “Guerra Mundial contra o Terrorismo”, os exércitos de uma miríade de governos africanos neo-coloniais engajaram em tais exercícios através do continente sob os auspícios do AFRICOM e também os seus antigos mestres coloniais. O AFRICOM tem um posto militar avançado – Camp Lemonier, em Djibuti, no chifre da África com mais de 2000 tropas americanas estacionadas lá.
Desde seu assassinato selvagem, novas reservas de gás e de petróleo foram encontradas em diversos países africanos o que levará apenas a mais intrigas imperialistas e neo-coloniais em África, caso a África não se uma para usar esses produtos para seus povos. Em adição a isso, o sugimento do Boko Haram na Nigéria, Al-Shabaab na Somália e a aliança de islamistas no Mali com a Al-Qaeda, no Magreb, anunciam uma futura militarização e desunião de nosso continente como pretexto para intervenção de estrangeiros beirando um presente de grego. O assassinato selvagem do Coronel Muammar Gaddafi em 20 de outubro de 2011 não foi somente um passo regressivo para uma Libia rica em petróleo, mas para todo o continente enquanto a União Africana era arrogantemente deixada de lado pela OTAN, França e Inglaterra em seu pretexto da doutrina “Responsabilidade de Proteger”, na qual a luta de líbios de pele escura e os imigrantes africanos tornaram-se alvos para tortura, detenção e mutilação sem precedentes. Esses africanos não foram protegidos pelas forças da OTAN. Tal doutrina humanitária tão ostensiva é simplesmente uma versão do século XXI daquela do século XIX chamada de o “fardo do homem branco” que concilia os motivos para a construção do império. O mal tratamento dado aos líbios de pele escura e aos imigrantes africanos na líbia mina a unidade do Pan-africanismo; é um assunto de estereótipo de unidade nacional em lugares como a Mauritânia e Sudão, onde árabes oprimem africanos.
Desde seu assassinato, o povo congolês não sofreu sozinho no mundo. Conflitos em outros lugares do continente africano, tal como Darfur, o Chifre da África, Libéria, Burundi, Serra leoa, e outros lugares; a guerra dos Bálcãs, a primeira guerra contra o Iraque, a invasão do Afeganistão em outubro de 2001 seguida pela grotesca invasão ao Iraque em março de 2003, apesar da oposição internacional às diretivas armamentistas de governos da Inglaterra e dos Estados Unidos; os abusos em Abu Ghraib; a rendição de governos da Inglaterra e Estados Unidos tudo em nome da Guerra Global contra o Terrorismo que agora suplantou a Guerra Fria de sua época; concomitantemente, centenas de detentos debilitados em campos militares dos Estados Unidos em Guantánamo em Cuba. Em resumo, muitos morreram, foram presos injustamente e torturados. Em adição a isso tudo, tem havido um vagaroso genocídio contra o povo em Gaza na ocupação israelita em terras da Palestina, ao passo que uma infraestrutura decadente está impactando negativamente na vida do povo palestino e a crise alimentar está afetando adversamente os velhos, as crianças e as mulheres grávidas.
Enquanto isso, o aniversário de seu assassinato coincide com os 53 anos de um odioso bloqueio contra a pequena ilha de Cuba, imposto em outubro de 1960. Ainda assim, em 13 de novembro de 2012, dos 193 estados membros da Assembléia Geral da ONU, 188 votaram unanimemente pelo fim do bloqueio. Três países votaram contra o fim do embargo: os EUA, Israel e a República de Palau, e ainda assim, o embargo continua valendo. Se democracia significa governar pela maioria, onde está a justiça democrática neste exemplo? Colocando de outra forma: porque os Estados Unidos podem ter relações normais de comércio com uma China “comunista” e não com uma Cuba comunista?
A AMEAÇA DE UM BOM EXEMPLO CONTINUA
Você e Nkrumah estavam profundamente conscientes do tamanho, da posição geo-estratégica e dos vastos recursos econômicos, e de que o Congo era crítico numa procura por uma unidade pan-africana. Entretanto, os imperialistas não poderiam tolerar um simples líder no mundo em desenvolvimento utilizando os recursos de seu país em interesse de seu povo. Em sua era, alguém era loco etiquetado de comunista por fazer ou mesmo pensar em fazer tal coisa. A consequência de se devotar os recursos nacionais para o desenvolvimento centrado no povo foi que líderes como você, Nkrumah, Cabral, Pierre Mulele, Sankara, Machel e muitos outros em nossa rica história tiveram de ser eliminados e muito frequentemente com a colaboração daqueles que Malcom X abertamente chamava de “negro da casa” ou os “Tio Tom” da época. A ameaça de um bom exemplo continua colocar em perigo o imperialismo, o capitalismo e o neo-liberalismo em nossos dias, porque o deles é uma ordem mundial unipolar na qual sistemas econômicos e políticos alternativos não podem ser tolerados por medo de que um bom exemplo sirva como inspiração para outros.
É por isso que Fanmi Lavalas, o partido político popular da maioria dos haitianos ainda permanece banido no Haiti; por isso que duas vezes eleito democraticamente o presidente haitiano Jean Bertrand Aristide foi atrozmente excluído e apresentado com sendo “uma cruz entre o Ayatollah e Fidel”[8] e foi exilado de sua terra natal por sete anos até março de 2012. O assalto à democracia no Haiti [9] foi orquestrado por uma elite dominante no país e seus assassinos cúmplices nos EUA, Canadá e França. Similar aos palestinos que elegeram o Hamas em janeiro de 2006, Fanmi Lavalas não deveria, aos olhos do ocidente, ter ganhado em vários níveis do governo em 1990 e 2000. Por conseguinte, as tentativas de acabar com um desejo genuinamente democrático do povo haitiano e suas organizações continuam nas famigeráveis operações de forças paramilitares, assim como a punição ao povo do Haiti por forças apoiadas por imperialistas e neo-colonialistas. Não é o povo haitiano que não está pronto para uma democracia genuína, mas a elite neo-colonial do Haiti e seus colaboradores ocidentais.
OS MESSIAS SÃO PARTE DE UM PROBLEMA?
No vórtex do conflito no Congo que capturou a região e vários outros líderes africanos com interesses ladrões, há vários falsos messias clamando a liderança do povo congolês para a terra prometida. Talvez isso seja um problema não somente no Congo, mas em toda condição pós-colonial africana: o povo é falsamente liderado a acreditar que eles precisam de um homem mágico (raramente uma mulher mágica), um messias para liberá-los de toda opressão. Nós procuramos por um messias somente para terminar numa nova forma de ditadura, culto de personalidade que engendra numa miserável e escusa patriarcal falocrática. Uma democracia que não seja genuinamente inclusiva de mulheres, juventude e todos os grupos étnicos e opiniões políticas é uma armadilha que a nossa falha em atentar para a presciência de Fanon nos custou enormemente. Similarmente uma falha em relacionar os edifícios neocoloniais e patriarcais em lugar desde que a descolonização física ocorreu, apenas serviu para levantar novos sistemas de dominação e repressão, incluindo o de gênero. Consequentemente, as diversas vozes das mulheres congolesas devem ser ouvidas, assim como seu silêncio. Elas devem estar na frente do processo de paz e reconstrução de um novo Congo, em todas as esferas da sociedade.
É chegada a hora do povo trabalhar e se organizar; definir seus interesses, necessidades e programas num princípio coletivo e abordagem oposta à fixação por líderes e indivíduos. Além do mais, a verdade é que muitos de nossos povos ainda não se emanciparam da escravidão mental e da psicose da dependência na qual existe o desejo dos forasteiros em vir e nos “salvar”. Para reiterar Nkrumah: “somente a África pode lutar por seu destino”. Somente o povo congolês pode se salvar.
UM CONGO LIVRE E ÁFRICA LIVRE
Como o Primeiro Ministro do Congo, um patriota congolês comprometido e um panafricanista, em sua curta vida você representou uma nova consciência congolesa, com a audácia para visionar um novo Congo como parte de uma África genuinamente unida e liberta. Eu te levo de volta ao seu discurso de independência de 30 de junho de 1960 quando você afirmou: “A independência do Congo marca um passo decisivo em direção à libertação de todo continente africano”, depois do qual você recebeu um aplauso maravilhoso. Você estava preparado para organizar para a unidade mas não lhe foi dada a oportunidade devido às enormes forças neo-coloniais e imperialistas. Você também falou a verdade para os poderosos e para aqueles sem poder naquele audacioso discurso em frente ao rei da Bélgica. Aos olhos do rei você era tão somente um negro esnobe. Aos olhos dos Belgas aquele discurso selou seu assassinato e desde então a cumplicidade deles em seu assassinato. Ainda assim, seu nome ainda vive no panteão revolucionário dos lutadores pela liberdade em todo o mundo, junto de Toussaint L’Ouverture, Nanny, Sojourner Truth, Haydée Santamaria, Nzinga, Nehanda, Víctor Lidio Jara Martínez, Ganga Zumba, Luisa Mahin, Che Guevara, Simón Bolivar, Frank Pais, Gasper Yanga, Paul Bogle, Hatuey, Mary Muthoni Wanjiru, e muitos outros que encherias as páginas desta carta a ti.
Alguns argumentam que já se fora a época da ideologia que envolveu a sua geração. De fato pergunto, que nobre ideologia dirige os grupos rebeldes no Congo? Não há nenhuma outra além de ganância pura, egoísmo, violência, força bruta e vingança. Nenhuma nação ou continente pode ser construído sobre valores tão desprezíveis e destrutivos.
O CONGO É VITAL PARA SALVAR O PLANETA
Talvez alguém ainda acredite que o sentimento de pan-africanismo, baseado no fato de que o que afetou um africano afetou todos os africanos e povos descendentes também tenha desaparecido. Ainda assim, eu ainda não acredito nisso. Certamente, a luta no Congo por paz, justiça economia e social deve ser mobilizada como um movimento global entre os africanos e povos de descendência africana e povos que vivem em paz e harmonia, de modo similar à repugnância moral do apartheid e dos crimes dele derivados nas vidas de negros sul-africanos na África do Sul, isso deslanchou um movimento global anti apartheid. Não podemos separar o conflito no Congo da paz mundial quando os recursos daquela terra serve de pilar para os estilos de vida do ocidente; quando poucas pessoas percebem que o Congo possui a segunda maior floresta tropical do mundo depois da floresta amazônica e é consequentemente, vital para os esforços coletivos para salvar o planeta do caminhos destrutivo da exploração capitalista. Tal como Jeannette Winterson sucintamente expressou no New York Times de 17 de setembro de 2009: “Nuclear, ecológica, química, econômica – nosso arsenal de Morte por Estupidez é impressionante para uma espécie tão inteligente como o Homo sapiens”.
Você continua a inspirar uma nova geração, pois existe congoleses que amam a paz, que são panafricanistas e internacionalistas que estão quietamente trabalhando em volta do mundo pela paz e pela justiça social para o povo do Congo. Silimarmente, em sua terra natal existe uma plethora de partidos políticos que clamam seu legado espiritual e político. Cabe ao povo decidir qual deles genuinamente representa o seu real legado.
O TRABALHO A SER FEITO
O trabalho, ainda por ser feito em termos de construir a paz, reconciliação, desenvolvimento sócio-econômico que beneficie a mulher, o pobre, os jovens, às crianças soldado, os fisicamente mutilados, os incapacitados fisicamente, os infectados por HIV/AIDS como consequência de estupro, cura da ferida mental e física dos traumas de guerra, é colossal. Integral a este trabalho deve ser a justiça retrativa e a reconexão de povos para um entendimento de uma história continental mais ampla a qual nem sempre foi banhada de sangue, como Marcus Garvey nos diz: “ Nós temos uma bela história, e devemos criar outra no futuro que irá deixar o mundo pasmado”. Você mesmo certa vez escreveu, “a história terá a sua vez, mas não será a história que é ensinada em Bruxelas – será uma história de glória e dignidade.” Nós devemos olhar pro passado, mas como outro grande pan-africanista, o falecido Tajudeen Abdul Raheem nos implorou: A vida deve ser entendida retroativamente mas vivida para o futuro.
Então Patrice, no 52º ano de seu assassinato que profundamente nos causa dor e nos leva a refletir sobre o passado e o presente do Congo e da África, eu relembro você como um ser humano e um líder político com uma visão de princípio. Seus valores, sua dedicação ao Congo e seu compromisso com a melhoria das vidas de seu povo são parte de seu legado que nós devemos perceber não somente para o Congo mas para todos os africanos e seres humanos deste nosso planeta. Tudo o que ainda resta para eu dizer é: “a luta continua”!
NOTAS FINAIS
1. Citado em The African Dream: the Diaries of the Revolutionary War in the Congo by Ernesto ‘Che’ Guevara, New York: 2000, p. 86.
2. Ibid.
3. Veja http://friendsofthecongo.org/pdf/coltan_facts.pdf
4. Citado em Revolutionary Path by K. Nkrumah, 1973, p.147-148
5. Ibid, p. 148.
6. Ibid, p. 149.
7. Ibid, p. 149.
8. Veja Damming the Flood Haiti and the Politics of Containment by P. Hallward, 2007, p. 35.
9. Veja Paramilitarism and the Assault on Democracy in Haiti by J. Sprague, 2012.
Tradução: Alyxandra Gomes Nunes
*Ama Biney é panafricanista e editora chefe do Pambazuka em língua portuguesa
**Trazido pra você com exclusividade por Pambazuka News.
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