O atual distúrbio que se vive na Líbia corresponde uma estratégia geopolítica das grandes potências ocidentais pelo controle do poder e dos recursos energéticos. As justificativas para a ocupação da OTAN estão relacionadas com a iniciativa da política externa líbia a partir de 1990 de lutar contra a ocupação ocidental na África; no fato do Khadafi nunca ter assinado o acordo de AFRICOM; na iniciativa do Khadafi de estabelecer uma moeda africana para as transações intra-africanas em substituição do Euro e o Dólar para assim permitir um maior desenvolvimento da África. O objetivo do artigo é demonstrar que a invasão da OTAN é algo planejado faz muito. Conclui-se que independentemente de usurpar os recursos petrolíferos líbio, as verdadeiras razões continua sendo o velho ditado de dividir para reinar e assim continuar a perpetuar a dependência da África face ao ocidente.
Palavras chaves: Líbia, recursos energéticos, Ocidente, Democracia
1. INTRODUÇÃO
O atual distúrbio que se vive na Líbia corresponde uma estratégia geopolítica das grandes potências ocidentais pelo controle do poder e de recursos energéticos. Ou seja, são disputas coloniais pelos territórios e não tem nenhuma relação com a implantação da democracia como os meios de comunicações pressionados pelos EUA e a OTAN vêm apregoando. A grande verdade é que o ocidente de forma estratégica conduziu os acontecimentos através dos meios de comunicação e a mídia internacional com o objetivo de fazer o mundo acreditar que as razões do genocídio cometido na Líbia seriam pela implantação da democracia.
Antes de prosseguir, convém deixar claro que o trabalho não pretende apoiar o regime de Khadafi, mas, tentar narrar os acontecimentos como ocorreram e as causas para que essa situação chegasse às atuais circunstâncias. A rápida forma como começou o conflito armado na Líbia depois de poucos dias de protestos, constitui uma forte justificativa de que já existia uma ação ocidental bem planejada e só se esperava o momento certo para sua execução (ABUGRE, 2011). Os motivos ocidentais para a invasão a Líbia numa análise simplista pode parecer que se limita somente aos interesses nos recursos petrolíferos tendo em conta que Líbia é o país africano que possui as maiores reservas do petróleo. Porém, essa questão apresenta outro componente talvez muito mais grave ainda: perpetuar o subdesenvolvimento africano e manter sua dependência face ao ocidente, sobretudo perante as instituições de Bretton Woods.
Ressaltar que até poucos anos atrás, o Khadafi era tido como o exemplo de uma boa liderança por parte do ocidente. Porque o panorama mudou radicalmente nos últimos tempos? Várias são as justificativas para esse fato. Em primeiro lugar, tem-se que, a partir de 1990, a política externa do governo Khadafi era lutar contra a ocupação ocidental na África. Em segundo, a Líbia nunca assinou o acordo de AFRICOM, uma armação dos EUA pelo posicionamento estratégico, em desconfiança do poderio da China na África, disfarçado com a justificativa de resolver os conflitos na África (CHENNTOUF, 2005, MANGU, 2008). Outra forte razão está relacionada com a proposta feita por Khadafi aos outros lideres africanos de estabelecer uma moeda africana para as transações intra-africanas em substituição do Euro e o Dólar permitindo um maior desenvolvimento da África, assim como aumentar os acordos de cooperação sul-sul, sobretudo, com China, Índia e Brasil.
Neste sentido, se as manifestações do líder líbio viessem concretizar, seria altamente prejudicial para os interesses ocidentais. Dito de outra maneira, as ameaças do Khadafi se traduziriam em perdas geoestratégicas do ocidente na África, em perdas de fontes de extração ilícita de recursos naturais, mão-de-obra barata. Obviamente, o ocidente não poderia permitir que essa situação acontecesse.
Desta forma, estamos assistindo ao ressurgimento do imperialismo como o ocorrido no século passado, só que agora, esse novo imperialismo é um “imperialismo coletivo”, termo cunhado por Amin (2001) em alusão de que atrela a tríade (EUA, União Européia e Japão) para perpetuar o domínio sobre outros países. Para Mirhan (2011) é sabido que não existe outra forma do mundo substituir a dependência do petróleo e gás natural pelos próximos 30 ou 50 anos. Para a mesma autora, é desta forma que alguns governos ditatoriais garantem a estratégia norte-americana do domínio do fluxo petrolífero em todo oriente médio, em troca de alguns benefícios estratégicos. Porém, quem sair da regra imposta pelos EUA, é fortemente penalizado. O mesmo ocorreu com o Iraque e agora é a Líbia. Quem será o próximo?
Este artigo tem por objetivo demonstrar que a invasão da OTAN a Líbia foi algo planejado pelo ocidente faz já algum tempo, sendo que as verdadeiras razões independentemente do poderio dos recursos petrolíferos, continua sendo o velho ditado de dividir para reinar, e assim continuar a perpetuar a dependência da África face ao ocidente. Sabe-se que a Líbia através do governo de Khadafi já começava a constituir o principal obstáculo para as intenções ocidentais na África. Por tal razão, a idéia da OTAN era clara: eliminar o Khadafi sobre qualquer pretexto. Justamente por Khadafi ser o alvo, os EUA e a OTAN recusaram todas as tentativas de resolução pacífica do conflito como as sugeridas pela União Africana entre outras.
O artigo está divido em quatro partes independentemente desta introdução. A primeira parte expôs de forma breve algumas características da história da Líbia. Na segunda sessão é apresentada os pontos fundamentais da nova colonização ou o imperialismo coletivo do século XXI. A quarta sessão apresenta os verdadeiros motivos
para a invasão da OTAN a Líbia. Na quinta sessão é exposta a importância da Líbia no desenvolvimento do continente africano. Na sexta parte aparecem as conclusões do artigo.
2. LÍBIA: BREVE HISTÓRICO
A República da Líbia, esta situada na África do Norte, fronteiriça com Egito e Sudão no leste, com Chade e Níger ao sul, com Argélia e Tunísia ao oeste. Sua capital é Trípoli e apresenta uma população de aproximadamente 6,5 milhões de habitantes (FMI, 2010). Durante muito tempo a Líbia fazia parte da Itália, após a invasão deste último país em 1911, no momento em que era parte do Império Otonamo. Década depois, diferentes partes da Líbia estavam sob o comando de franceses, ingleses norte- americanos e italianos (casualmente, as mesmas potências que hoje decidiram ocupar novamente o país). Após a independência, a Líbia passou a ser governado pelo Sayyid Idris al-Sanusi (CHOUALA, 2007), que teve forte apoio dos países ocidentais, sobretudo a Inglaterra e os EUA, em troca do estabelecimento de bases militares destas duas potências no território líbio.
Em 1969, teve uma insurreição liderada por Khadafi, um jovem de 27 anos, que culminou com a monarquia de Sanusi, e com isso, decretar o fim do sonho das grandes potências ocidentais de usurpar o petróleo líbio, cujas jazidas foram descobertas em 1961. Ademais, para bater no coração do imperialismo norte-americano e inglês, Khadafi proclamou o Estado líbio como islâmico e socialista, em meio da época da guerra fria (YASMINA, 2005). Seguidamente Khadafi fechou todas as bases militares norte-americanas e britânicas, estabeleceu um restrito controle sobre o petróleo do país e nacionalizou algumas empresas estrangeiras.
Na atualidade, Líbia é o país africano mais desenvolvido, muito embora a imprensa ocidental intenta colocar a toda custa que é a África do Sul. Segundo as estatísticas FMI (2010), a Líbia tinha o maior IDH da África (0, 755) e ocupava o número 55 no mundo. O índice de alfabetização líbio é de 87% e somente 5% de sua população é considerada pobre. A esperança de vida ao nascer da Líbia é equiparada com os países desenvolvidos (74 anos), assim como a mortalidade infantil por cada mil nascidos vivos (18 mortos por cada 1000 nascidos vivos) com infra-estruturas de ponta em todos os setores da economia (ABUGRE, 2011; FMI, 2010).
Por fim, precisamos ressaltar que a Líbia foi o grande propulsor das três principais instituições pan-africanas: o Fundo Monetário Africano, o Banco Africano de Investimento e da União Africana. O governo líbio estava financiando as empresas de telecomunicações africanas, as fábricas de petróleos, construções de hospitais etc. Com todas essas evidencias, é visível que a Líbia era o principal oponente do FMI na África e suas contribuições estava enfraquecendo as posições geopolíticas dos países da OTAN no continente negro.
3. A NOVA COLONIZAÇÃO E O IMPERIALISMO COLETIVO DO SÉCULO XXI
A forma como estão decorrendo os acontecimentos nos países da África do Norte, nos fazem recuar um na história e lembrar a intensidade com a qual se desenvolveram a colonização e o imperialismo desde a década de 1880 até a irrupção da primeira Guerra Mundial. Nessa época, os países ocidentais para poderem expandir seu domínio sobre o continente africano usaram como métodos
[1], a diplomacia, a invasão militar ou a combinação de ambas (UZOIGNE, 2010; BOAHEN, 2010).
O que está acontecendo hoje, muito embora de forma distinta, é um reflexo de que as pretensões imperialistas, mesmo que tenha passado várias décadas, continua sendo as mesmas: apoderar-se das riquezas dos países periféricos a custa de quaisquer circunstâncias. Estamos assistindo uma nova fase do imperialismo onde os continentes antes repartidos durante a primeira etapa imperialista pelas grandes potências imperialistas durante a época da Conferência de Berlim continuam sendo os mesmo: a África e a Ásia. A grande diferença é que na atual conjuntura internacional globalizada com um grande avanço tecnológico, e com as grandes potências ocidentais submergidas em crises econômicas e financeiras, atrelam de forma estratégia quase a totalidade dos meios de comunicação e a mídia internacional em geral com a falsa política da “defesa da democracia”.
Ou seja, o imperialismo, aqui entendido como a dominação política das superpotências ocidentais sobre os países periféricos, estabelecendo suas hegemonias sociopolíticas e culturais, continua com as mesmas pretensões. A liderança desta nova fase imperialista corresponde aos EUA que acompanhado pelos países da União Européia e o Japão, tenta impor suas hegemonias políticas e culturais aos outros povos.
Segundo Amin (2001), a conquista do planeta pelas grandes potências imperialistas (europeus e norte americanos) realizou-se em duas fases e está entrando na terceira. A primeira fase organizou-se em torno da conquista das Américas, dentro do quadro do sistema mercantil da Europa Atlântica daquela época. Para ele, o resultado foi claro: destruição das civilizações indígenas e a cristianização ou simplesmente o genocídio sobre o qual foi construído os EUA.
A segunda fase baseou-se na revolução industrial e sua manifestação foi à repartição das colônias asiáticas e africanas pelas grandes potências européias. Nesta segunda fase, está a origem do maior problema que enfrenta a humanidade: a imensa polarização que aumentou a desigualdade no mundo. Na atualidade, presenciamos a terceira fase do imperialismo. O discurso ideológico atual desenhado para assegurar o domínio dos povos da tríade (EUA, União Européia e Japão) agora tem sido direcionado no direito de intervir, supostamente justificado pela defesa da democracia. Foi em alusão a essa tríade que Amin (2001) cunhou essa terceira fase do imperialismo de “imperialismo coletivo”.
4. O CONFLITO LÍBIO E OS VERDADEIROS MOTIVOS DA INVASÃO DA OTAN
O ódio do ocidente pelo líder Khadafi vem desde a ascensão do líder líbio ao poder em 1970, significando o fim do controle ocidental na Líbia. Neste sentido, o atual conflito líbio é uma questão planejada fazia muito tempo, e era só esperado o momento para sua execução. Desde o início do conflito os EUA, a Inglaterra, a França e a Itália rechaçaram todos e quaisquer intentos de mediação pacífica. Lembrar que dias depois do seu início, a União Africana criou uma “Comissão especial” para o conflito líbio liderado por África do Sul, Mali, Mauritânia, Congo e Uganda com o objetivo de encontrar solução “pacífica” e não via armada. Entretanto, o esforço da União Africana não foi tido em consideração pelas potências ocidentais que decidiram iniciar os bombardeios a Líbia porque o objetivo da missão era claro. Em várias conferias de imprensas, após o início do conflito, o Presidente da Comissão da União Africana Jean Ping saiu publicamente criticando a não intenção dos Estados Unidos e a União Européia de encontrar soluções pacíficas do conflito.
É bom não esquecer que a União Africana conta entre sua estrutura organizacional com o Conselho da Paz e Segurança (CPS), uma instituição pan-africana de promoção da paz e segurança na África. O CPS representa um órgão de decisão para a prevenção, gestão e resolução de conflitos, constituído na Cúpula de Durban (África do Sul) em 2002, muito embora suas ações começassem oficialmente em 2004.
O CPS está conformado por 15 Estados considerados de maior capacidade militar e projeção regional5 e além de sua função de diplomacia preventiva e manutenção da paz, também é o encarregado de preparar as ações de intervenções humanitárias da União Africana nos países em conflitos e nos campos de refugiados (UNIÃO AFRICANA, 2001). Neste sentido, pode-se dizer que s potências ocidentais, independentemente violar os direitos de uma instituição supranacional como a União Africana, humilharam a maior organização no continente africano usando suas forças e influências em prol de saciar suas necessidades.
Porém, independentemente do esforço da União Africana, outras iniciativas pacíficas foram colocadas na mesa. Entre elas, temo a iniciativa do ex presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que se ofereceu para dirigir uma um comitê de mediação do cessar fogo, uma iniciativa apoiada pelos países da América Latina, a União Africana e a Liga Árabe. O Khadafi aceitou a idéia de cessar fogo e a presença de observadores internacionais para avaliar a questão dos direitos humanos. Mas, novamente, todas essas iniciativas foram rechaçadas, porque o objetivo era claro: tirar o Khadafi do poder sem importar as conseqüências colaterais que possam causar.
Segundo Abugre (2011), a França começou a planejar o ataque a Líbia desde outubro de 2010, enviando para Benghazi armamentos e tropas. Posteriormente no dia 16 de novembro de 20110, França mandou um trem de cargas com soldados disfarçados em “empresários” que chegaram para investir na Líbia. É por esta razão que houve uma [2] revolta nesta região que iniciou como protestas e manifestação da população civil e que em dois dias se transformou em rebelião armada e em menos de um mês a OTAN já tinha declarado que ia invadir o país. Se não houvesse, a priori, tropas francesas na área, dificilmente o combate aconteceria com essa velocidade [3].
Noutro ângulo de análise, o líder do Conselho Nacional de Transição (CNT) o coronel Khalifa chegou a Líbia para liderar o levante armado depois de um mês dos acontecimentos terem iniciado. Khalifa vivia nos EUA desde a década de 1980, e segundo Abugre (2011) tudo indica que trabalhava para a Central de Inteligência Americana (CIA).
As potências ocidentais implicadas diretamente no conflito líbio apresentam motivos suficientes para acabar com o governo da Líbia e seu líder. Para a França de Sarkoky, Abugre (2011) afirma que foi Khadafi quem financiou a campanha eleitoral do presidente francês e, para esconder esse fato, nada melhor que aniquilar o credor para ficar sem dívida, e mais ainda, isso sem contra com as pretensões imperialistas da própria frança em relação ao poderio líbio na África como se demonstra em outras sessões. Em relação a Itália, Silvio Berlusconi usou estrategicamente o conflito líbio para desviar a atenção do povo, tendo em cota que vinha sendo acusado de subornos, assédio as mulheres, uso do fundo público para seus prazeres pessoais. Para Inglaterra e, sobretudo os EUA, a questão está na negativa do Khadafi de privatizar os poços petrolíferos e continuar a exercer uma influência sobre o petróleo da Líbia.
Dentro do continente, Khadafi foi quem lançou o primeiro satélite africano de comunicações (RASCOM1), que garantiu a cobertura universal do continente em telefone, televisão, radiodifusão e múltiplas outras aplicações tais como a tele medicina e o ensino a distância. Segundo Pougala (2011), pela primeira vez, uma conexão de baixo custo se torna disponível na África inclusive nas zonas rurais devido a um sistema por ponte radio WMAX. A idéia iniciou em 1992, quando 45 países africanos criaram a sociedade (empresa) RASCOM para dispor de um satélite africano a fim de diminuir os custos da comunicação no continente. Até essa data, telefonar desde qualquer país da África ou para a qualquer país da África tinha a tarifa mais cara do mundo, devido ao imposto de US $500 milhões por ano, que a Europa cobrava sobre as conversações telefônicas mesmo que estes fossem, no interior do mesmo país africano, para a transmissão da voz nos satélites europeus como Intelsat. E, para deixar de pagar esse imposto, era necessário adquirir um satélite africano, que custava cerca de 400 milhões de dólares pagável em uma única prestação (POUGALA, 2011)
Para este autor, ninguém estava disposto a financiar tal projeto. Ao longo de quatorze anos, os países africanos correram atrás de financiamento, solicitando todos os parceiros incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM), os EUA e a União Européia, mas, não resolveram o problema. Foi então que, em 2006, o governo líbio decidiu aportar US$ 300 milhões a disposição dos países africanos e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Banco Oeste Africano de Desenvolvimento (BOAD) entraram com os restantes US$ 100 milhões que faltava. Este fato propiciou que, em 2007, a África possuísse seu primeiro satélite, mudando completamente o panorama de telecomunicações. Portanto, essas ações representaram um duro golpe para os interesses. Eram evidências que indicavam ao ocidente, de que para continuar seu domínio sobre a África, o Khadafi não tem que estar presente.
Ressaltar que desde início da década de 1990 a política externa líbia era evidente: lutar contra a ocupação ocidental no continente africano. Posteriormente, Khadafi tinha declarado publicamente a criação da moeda única africana “o dinar de ouro” para substituir o Euro e o Dólar nas transações comerciais inter e intra-africana. Ainda neste nível de generalidade, Khadafi propôs aos governos africanos aumentar a cooperação com os países emergentes (especialmente China, Índia e Brasil) em detrimento dos países europeus e os EUA (CHOUALA, 2007).
Será que a invasão da OTAN está salvando vidas dos civis na Líbia? Evidentemente que a respostas é não. Até por que era impossível salvar vidas com os bombardeamentos da OTAN contra a população civil. Era necessária uma intervenção dessa índole? Será que proteger civis é sinônimo de aviões da OTAN sobrevoando o espaço aéreo líbio, violando, bombardeando populações civis e os principais poços petrolíferos ou destruindo as infra-estruturas do país mais estável da África? A mesma atrocidade foi cometida no Iraque, e a pergunta é: hoje tem democracia no Iraque? A grande justificativa para invadir ao Iraque era que esse país tinha armamentos de destruição em massa e depois do assassinato do Saddam Husseim, se comprovou que era tudo falso. Podia se perguntar se essa farsa não tem punição? Será que só tem um grupo de países que devem ser punidos e outros não? O caso da Líbia será a mesma coisa, ou seja, porque dentro de alguns anos, vai-se comprovar da mesma maneira que tudo o que foi dito contra o governo de Khadafi não era bem o que diziam.
5. IMPORTÂNCIA DA LÍBIA NO CONTINENTE AFRICANO
Sem lugar a dúvidas, a Líbia é um país estratégico no continente africano e o principal propulsor dos ideais desenvolmentistas. O conflito atual nesse país é importante para situar tais fatos no contexto africano. Para tanto, é necessário, lembrar que desde início dos processos de democratização nos anos noventa, o continente africano enfrenta problemas sociopolíticos econômicos e culturais que lembram as dificuldades enfrentadas nas primeiras décadas das autonomias nacionais. Logo depois das independências, a África não somente enfrentou um marasmo econômico sem precedente, mas também do Oeste ao Este e de Norte ao Sul, o continente teve que enfrentar a conflitos multiformes cujas violências inquietam e perturbam os mais lúcidos espíritos (MANGU, 2008; MAROUF, 2005).
Passada as festividades e a euforia das independências, os novos dirigentes africanos seguiram a cartilha dos antigos colonizadores, que de forma planejada, conscientes, pensaram e colocaram em prática a estratégia da dependência eterna e da subordinação econômica e política dos territórios ultramarinos, fatos que levou Wade (2005) afirmar que a África ficou independente somente em 2000. Ou seja, ao longo dos quatro décadas que precederam esta data, a estratégia européia fez reinar o sistema conhecido como o neocolonialismo. Neste sentido, o início do século XXI, que viu a criação da União Africana (UA) em substituição a antiga Organização da Unidade Africana (OUA), e a criação da Nova Parceria para o Desenvolvimento (NEPAD), marcam o início do renascimento africano no cenário internacional devido ao engajamento e luta de algumas lideranças africanas entre os quais se destaca a figura do Coronel Mohamar Khadafi.
A importância da Líbia no continente africano e conseqüentemente os impactos da possível eliminação “física” do seu líder, seria uma tentativa ocidental de demonstrar a longa tradição de influenciar e dominar a África, para desta forma derrocar a afirmação da vocação africana onde a Líbia aparecia como o ator mais determinando.
Admitindo que a revolução que levou Khadafi no poder em 1969, tinha como inspiração o nasserismo [4], é fácil entender a importância da África na política externa líbia ou vice-versa ao longo das últimas quatro décadas. Segundo Chouala (2007), a África constitui ao mesmo capital e um elemento fundamental para a política externa da Líbia. De fato, como conjunto de elementos pelos quais uma entidade se firma e se consolida em relação ao mundo exterior, a política da Líbia se apoiou fortemente nas questões africanas para se firmar como um ator importante a ser respeitado nas discussões geopolíticas internacionais nos últimos vinte anos. A ambição de exercer uma influência na África tem sido uma fonte e um capital geopolítico que Khadafi soube usar na sua busca de monopólio ou hegemonia no continente em oposição à ordem mundial estruturado em volta e pelas potências ocidentais, como inclusive ilustra o epigrafo a seguir:
"L ́accés à la position de leader hégémonique de l ́Afrique est, dans la stratégie libyenne d ́opposition à l ́Occident, un capital efficient ; il l ́est à la fois en tant qu ́arme et en tant qu ́enjeu d ́opposition. L ́influence de l ́Afrique permet à la Libye «d ́exercer un pouvoir, une influence, donc d ́exister dans le champs [eurafricain"> au lieu de d ́être une simple quantité negligeable" (CHOUALA, 2007, p.131).
Ou seja, a ambição da Líbia de estar presente e de ter poder de influência no continente africano entra numa dinâmica de luta, de protagonismo e de concorrência entre Khadafi e o ocidente em geral e especificamente com a França, pelo papel hegemônico na região. Na ultima década, que viu o nascimento da União Africana, Khadafi fez do continente negro uma prioridade na política externa do seu país tanto do ponto de vista tática, quanto do ponto de vista estratégica, além de considerar a consolidação da sua influência no continente como vital para a inserção internacional da Líbia. Para alguns autores (CHOUALA, 2007; ABUGRE, 2001), a influência e o controle do espaço sociopolítico e econômico regional africano são fontes e meios de contenção da ameaça externa, portanto, de sobrevivência e de perpetuação da entidade revolucionaria líbia.
A partir deste fato, fica evidente a impossibilidade de negar ou evitar o choque de interesses entre o desejo e a ambição Líbia de se projetar como uma potência regional e estender sua influência na África (já que essa possibilidade não foi aceita no mundo árabe), como os interesses neo-imperialistas dos antigos colonizadores.
Grosso modo, o caráter prepotente do ocidente e da política externa de seus integrantes, constituiu foi um dos elementos de peso na determinação da política externa líbia, visto que a ambição hegemônica no continente deve se concretizar somente mediante o recuo da influência ocidental na África (WADE, 2005). Nesta perspectiva, é importante lembrar que desde a sua ascensão ao poder, Khadafi, buscou constantemente, os caminhos e meios para alcançar suas ambições revolucionarias e se afirmar em relação às potências internacionais que em contrapartida trabalham em favor da exclusão dos Estados ou potências pretendentes [5] a tais posições tanto no plano regional quanto internacional.
Nesta ótica, é fácil entender o porquê do ocidente se opor ao surgimento de lideranças regionais potentes (Sadam Hussein no Iraque, Khafadi na Líbia e Almaddinejad, no Irão) e muito menos ao fortalecimento da solidariedade regional, principalmente quando se trata da África, dominada ao longo da história graças a estratégia de dividir para reinar. Estratégia que funcionou tanto durante a ocupação colonial quanto ao longo das cinco décadas pós- independência africana, nos quais os projetos ou sonhos de Estados Unidos da África se mostraram improvável devido a divergências internas entre os principais dirigentes.
No entanto, a atitude dos africanos nos últimos anos mostrou que a União Africana não somente é possível, mas sim, que ela é á única forma de independência e de desenvolvimento da África, mandando assim, um sinal forte ao imperialismo ocidental. Esse fato vinha sendo um sinal para o ocidente de que a África está pronta a tomar seu destino em mãos e interromper a história da dominação, econômica, política e sociocultural sofrida desde século diz oito. Segundo Esterhuyse (2010), a mensagem tácita de que “queremos tomar as rédeas de nosso próprio destino” tendo em conta que durante muito tempo o futuro da África era manipulado principalmente pela Grã- Bretanha, França, Bélgica e Portugal durante na era colonial e os EUA, após as independências nacionais.
Ainda para este autor, é importante ressaltar o fato de que um dos principais obstáculos ocidentais nos últimos tempos é a solidariedade africana que alcançou seu apogeu com o estabelecimento da União Africana com Khadafi como principal inspirador, distinta da União Européia. Assim, apesar das divergências internas, a União Africana reflete a solidariedade, particularmente com respeito a questões tais como anti- colonialismo e africanismo. Admitindo que a Líbia de Khadafi seja um dos grandes pilares desta nova postura africana diante dos desafios da globalização, é fácil entender a hostilidade ocidental contra o líder líbio que alias, nunca escondeu sua oposição à ocidentalização da África.
O objetivo geopolítico da criação da União Africana consiste na tentativa de encaixar da melhor maneira a África na Nova Ordem Mundial, baseada nos princípios de igualdade de todos os povos, de todos os Estados, de todas as raças, de todas as culturas, o direito de todos ao respeito, desenvolvimento, estabilidade, segurança, paz, mas também e principalmente, a compreensão mútua fundada numa cooperação igualitária onde todos ganham (THIAM, 2009). Ora, sabe-se na ordem atual, o continente africano sofre dos efeitos da desigualdade dos termos de troca, da dominação cultural, política e de uma forte exploração econômica que começou com a colonização, continuou durante o período da Guerra Fria e se agravou com os planos de ajustamento Estruturais, resultando nos conflitos internos do período pós-queda do muro de Berlim.
Neste último período, no entanto, observou-se um início de mudanças significativas no continente africano graças a chegada de uma geração de liderança e de chefes de Estado comprometidos a trabalhar juntos para libertar a África da dependência socioeconômica, política e cultural, o que significa tecnicamente enfrentar de forma enérgica o sistema até então estabelecido e controlado pelos antigos impérios coloniais [6].
Os eventos que marcaram a aproximação e o engajamento dessa liderança são entre outros, a primeira conferência dos intelectuais e homens da cultura da África e da diáspora da era pós- independência organizado por Abdoulaye Wade em 1996, a criação da União Africana sobre o comando de Khadafi em 1999 e a instituição da paridade de representação entre homens e mulheres na organização e finalmente, o lançamento da NEPAD, em 2001 (THIAM, 2009).
Essas mudanças estruturais além de permitir o alargamento dos parceiros bilaterais além das fronteiras tradicionais (Europa), estreitam os laços entre os africanos, permitindo o incremento das trocas comerciais, os investimentos internos, a promoção da paz, da democracia e do desenvolvimento do continente partindo dos próprios africanos. Isto abre um espaço político, econômico, cultural e geopolítico para Khadafi, que, sempre aspira a se tornar uma potência regional e um líder continental na África.
Desde chegada de Khadafi ao poder na Líbia, ele não escondeu a sua convicção de ter um papel importante e histórico a desempenhar no continente africano. Para tanto, é importante e mesmo imprescindível se opor ao imperialismo europeu como o fez Khadafi desde sua chegada ao poder em 1969. Militante do pan-arabismo, do terceiro mundismo, do nacionalismo revolucionário, do messianismo ideológico, do islamismo e do movimento dos países não alinhados, Khadafi percebe as relações euro-africanas baseadas no regime dito de associação entre a comunidade européia e os países e território do ultramar como sendo uma pura e simples perpetuação da dominação européia da África (CHOUALA, 2007).
Nesta ótica, a doutrina de Khadafi, que se fixa como objetivo reconquistar a pátria usurpada pelas potências imperialistas, afirma com razão que África não pertence aos africanos, mas sim aos europeus, que confiscam a soberania e os recursos africanos, sobre a guarda chuva da ajuda e da cooperação visto e chamado pelos nacionalistas, e pan-africanistas como o neocolonialismo e/ou neo-imperialismo.
O neocolonialismo designa etimologicamente, novas formas de colonialismo que caracteriza a política adotada pelas antigas potências coloniais nas suas relações com suas antigas colônias que se tornaram independentes, no intuito de manter ou restabelecer esses territórios dependentes econômica, política e culturalmente A doutrina do neocolonialismo está baseada na idéia de que o fim do período colonial não coloca ponto final à opressão e exploração dos antigos territórios coloniais pelas metrópoles (AMIN, 1972, 2001;WADE, 2005). O colonizador elaborou novas formas e mecanismos de dominação [7] que colocam em evidências o caráter teórico da independência política e deixa claro para os descolonizados, que não haverá verdadeira independência política sem independência econômica (ARDANT, 1965). Neste contexto fica fácil entender a importância do continente africano nas políticas externas tanto dos países europeus quanto para a Líbia e conseqüentemente do antagonismo dos dois neste campo política, econômica e culturalmente.
Segundo Smith e Glaser (2005), neste âmbito, da busca incondicional dos países europeus em geral e particularmente da França, de continuar salvaguardando os interesses das potências imperialistas se chocam com a afirmação da vocação continental e internacional da Líbia revolucionária dirigida por Khadafi. Esta rivalidade entre a França e a Líbia no solo africano que iniciou na década de 1970, começou ser mais frenético após o fim da Guerra Fria, particularmente depois, da criação da União Africana e a NEPAD respectivamente em 2001 e 2002, que tem entre outros objetivos buscar o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural, além do fortalecimento das relações inter-africano, diversificarem, as parcerias internacionais do continente no mundo globalizado. Isto significa automaticamente o questionamento dos resultados alcançados ao longo dos quarenta anos de cooperação franco africanos e o reconhecimento dos prejuízos causados pelo neocolonialismo aos países africanos.
Khadafi, como um dos principais mentores e líder da União Africana passa a representar uma ameaça para os interesses políticos e econômicos do ocidente em geral e da França em particular. O que justifica o engajamento francês na ajuda militar aos insurgentes e na liderança das forças da OTAN, sem as quais certamente, Khadafi saíram vencedor desta guerra. A intervenção das forças européia entra na lógica da estratégia francesa de usar em seu favor as estruturas européias, para reocupar seu espaço perdido no continente africano, que foi e continua sendo uma prioridade essencial da política externa francesa e um eixo fundamental da cooperação da União Européia com a África (KLEIN, 2008).
Portanto, apesar de levantar a bandeira da democracia e de direitos humanos para justificar e legitimar a intervenção ocidental, a verdadeira razão é encontrada nas motivações econômicas e geopolíticas. No entanto, vale ressaltar que a intervenção ocidental sobre a guarda chuva da ONU na África não é novidade e sempre foram dirigidos contra dirigentes africanos engajados em promover e defender os interesses e o desenvolvimento do continente [2].
Deste modo, vê-se que a crise da Líbia não é um caso isolado do intervencionismo ocidental na África ao longo da história, no entanto, as conseqüências (negativas) desta crise serão enormes para o continente africano. Enquanto o ocidente se festeja vitória e desfrutam das riquezas do sol e do subsolo Líbia e africano pós- Khadafi, o continente negro está chorando e vendo um futuro nebuloso e incerta. Querendo ou não este Khadafi era temido pelo ocidente não pela sua força, mas sim pela sua postura na frente da União Africana e sua coragem de enfrentar a ordem internacional vigente, portanto, para os africanos, a eliminação de Khadafi, significa menos um parceiro disposto a resolver os problemas africanos, menos uma alternativa a ajuda “humanitária” européia, mas também isto significa o fechamento de mais uma porta até então aberta para os imigrantes africanos, perseguidos pelas leis homo fóbicas e racistas em vigor no âmbito da União Européia.
6. CONCLUSÃO
Existem várias interpretações para a problemática do conflito na Líbia na qual destacaremos duas delas. A primeira está relacionada em que no caso do governo do Khadafi vier a ser derrotado, a África estaria novamente submetido aos interesses ocidentais. A intenção ocidental é evitar a completa integração da África, que era um dos objetivos do governo de Khadafi. Uma África forte e desenvolvida seria um forte impedimento para os interesses ocidentais. E, como Khadafi era o líder mais ativo no processo do desenvolvimento africano, a melhor alternativa era acabar com a sua presença física.
A segunda interpretação está relacionada em que as conseqüências do conflito, vai trazer mais divisões dentro da sociedade líbia, mais fragmentações de grupos étnicos e frações armadas em forma de pequenos grupos de guerrilhas, o que causaram muitos instabilidade no país. Os intensos bombardeios da OTAN a residência do Khadafi na Líbia é o novo modelo criado pelas grandes potências imperialistas a ser aplicado em qualquer país que incomoda s interesses ocidentais. Será que os bombardeios da OTAN não constituem violação de direitos humanos que supostamente foi o motivo pela qual invasão a Líbia? Segundo as circunstancias, parece que a intervenção pela violação dos direitos humanos deve ser respondida com outra violação dos direitos humanos.
O curioso é o fato de que as justificativas para ocupar os países subdesenvolvidos em nome da democracia ser somente nos países com recursos energéticos (petrolíferos) ou de predominância de alguns produtos mineiros. Porque então não ocupar o Yemen, ou a Costa do Marfim? Na sua intervenção em relação ao caso do Yemen, o ex secretário do Estado America diz que o assunto do Yemem incumbia só aos yemenitas. Será que o mesmo não poderia ser dito, em relação ao caso líbio?
Conclui-se que os distúrbios na Líbia não passam do velho ditado das potências ocidentais de dividir para reinar, e mais ainda, num momento em que tanto os EUA como a União Européia enfrentam profundas crises financeiras. Nada melhor que invadir um país com grandes reservas de petróleo para apoderar-se de seus recursos e tentar justificar perante o passivo olhar do mundo, o genocídio ancorado e apoiado pelas Nações Unidades e a OTAN contra a população civil em busca de satisfazer suas necessidades e suprir as carências. Porém, a verdadeira intenção da invasão a Líbia, não é só pelo petróleo deste país, mas sim acabar com o Khadafi e desta forma, impedir a verdadeira integração africana rumo ao desenvolvimento.
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[1] Foi o período da corrida aos tratados, de invasões, conquistas e ocupações dos exércitos colônias.
[2] Desde Março de 2006, os 15 países membros de PSC são: África do Sul, Argélia, Botsuana, Burkina Faso, Camarões, Egito, Etiópia, Gabão, Gana, Malaui, Nigéria, Republica Democrática do Congo, Ruanda, Senegal e Uganda.
[3] A situação começou quando Nuri Mesmar, chefe de protocolo de Khadafi e um dos seus amigos mais próximos chegou a Paris no dia 21 de outubro de 2010 para uma realizar uma cirurgia e não foi recebido pelos médicos, mas sim por Nicolas Sarkozy. Posteriormente, no dia 16 de novembro, Mesmar e o governo francês acordaram colocar as tropas francesas na Líbia com a justificativa de que eram homens de negócios. Dois dias depois, um avião de carga francês pousou em Benghazi com uma delegação francesas que imediatamente reuniu com militares de alta liderança do governo líbio motivando a que eles abandonassem o governo de Khadafi. Entre os que abandonaram, se encontrava o coronel Gehan Abdallah, cuja milícia posteriormente liderou a rebelião (ABUGRE, 2011).">
[4] É ideologia política baseada nos pensamentos do líder nacionalista egípcio Gamal Abdel Nasser quem pregava a construção e o fortalecimento do mundo árabe.
[5] Entre os Estados que buscaram a ascensão ou construção de Estados fortes, que caíram frente a resistência ocidental (Europa e Estados Unidos das Américas), pode se citar aqui o exemplo dos países do golfo, Irã e Iraque.
[6] Entre tais lideranças pode se citar o sul africano Thabo Mbeki, Obasanjo da Nigéria, Abdoulaye Wade do Senegal, Boutefikha do Egito e principalmente o líder líbio Mohamar El Khadafi.
[7]. Estes mecanismos iniciam com a balcanização do continente africano em pequenos Estados inviáveis econômicas, política e socialmente, facilitando a montagem de estruturas econômica- políticas dirigidas por representantes da antiga metrópole principalmente a França. O mecanismo de dominação mais eficaz é certamente, é a rede de cooperação conhecido e descrito por Fraçois Xavier Verchavis, como “ la Françafrique” e cujo alguns mecanismos são bem descritos e detalhados por Glaser, Smith em seu livro intitulado “ Comment la França a Perdu l ́Afrique” publicado em 2005. Neste livro os autores, mostram que os verdadeiros dirigentes dos países africanos independentes eram diferentes da figura do presidente, mas sim os ocupantes dos cargos de diretor de Gabinete, secretários gerais do governo, cargos que, coincidentemente eram ocupados por franceses que até a véspera da independência africana eram administradores coloniais, e logo pegam a cidadania africana para fazer parte da nova equipe dirigente. Isto se verifica nos principais países amigos da França como Costa de Marfim, Gabão, Senegal etc. Assim, em Côte d ́Ivoir, Guy Nairay, que foi sucessivamente administrador colonial no Senegal (1942- 1946), da Mauritânia até 1959, chega como comandante geral de uma das maiores cidades do sul marfinense de 1950 a 1954. Em 1956, depois de dois anos, no anonimato, foi promovido diretor de Gabinete do único representante e candidato a presidência marfinense, Felix Houphouet Boigny onde, ele é encarregado dos dossiês políticos e da gestão dos recursos humanos do Estado, até 1993, ano da sua morte. No mesmo período, a secretaria geral do governo e do Estado, estava nas mãos de Alain Belkiri, outro Francês, que coordena a administração e a intendência do país (SMITH; GLASER, 2005). O mesmo exemplo se aplica, nos diversos países de colônia francesa, tais como Senegal onde Jean Collin desempenho as mesmas atividades de 1960 até 1993, no Gabão Bob Maloubier, que assume o cargo depois da eliminação por golpe do Estado do primeiro presidente do país Léon Mba Além destes mecanismos, pode-se citar a criação e uso de organização econômica e monetária como a zona do Franco CFA, bem como a Organização Francófona como meios eficazes de dominação e de controle na era do neocolonialismo.
[8] A título de exemplo pode se citar o caso da República Democrática do Congo de Patrice Lumumba entre 1960 e 1964, Burkina Faço de Thomas Sankara em 1987 (MAZRUI, 2010). Na verdade, entre 1960 e 1990, setenta e nove golpes de Estados tiveram êxito e as tentativas de golpes verdadeiras ou falsas são tantas que ninguém conseguiu catalogá-los, e, assim, a África foi o teatro de guerras de substituição, que tiveram como resultado de derramar o sangue dos africanos em beneficio ou para a defesa dos interesses das potências ocidentais (SIMITH; GLASER, 2005).
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* Lito Nunes Fernandes: Doutorando em economia pela UFRGS e professor da Universidade Colinas de Boe.
* Mamadou Alpha Diallo: Doutorando em PPGEEI pela UFRGS e Mestre em Ciências Políticas.
* Maria Lorena Allende Garcia: Mestre em Economia pela UFRGS e Investigadora do Instituto de Economia e Administração da Universidade Nacional de La Rioja (Argentina).
**Por favor envie comentários para [email protected] ou comente on-line em http://www.pambazuka.org
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