Uma incerteza substantiva: a democracia na África do Sul torna-se dinâmica
O reinado político de Thabo Mbeki chegou agora ao fim. Sua partida tem provocado preocupação, especialmente entre a comunidade de negócios da África do Sul e suas classes sociais altas. Em dezembro de 2007 ele foi sem-cerimônia rejeitado para a presidência do ANC ( Congresso Nacional Africano) em Polokwane. Nove meses mais tarde, a nova liderança no partido forçou sua saída como presidente do estado, sete meses antes do final do mandato. A resultante instabilidade política incluindo as resignações de um certo número de ministros mais intimamente ligados a Mbeki levantou algumas preocupações.
Está a democracia em perigo? Irá a prudente política econômica de Mbeki ser alijada? Como Jacob Zuma ganhou a presidência do ANC e o que pode ser esperado de seu mandato político? Todas são perguntas importantes, mas deixe-nos começar por direcionar ao que foi Polokwane. Muitas pessoas poderiam reconhecer que Polokwane representou uma rebelião dos delegados do ANC contra as regras de Thabo Mbeki. E foi motivado por dois fatores. Primeiro, o qual quase todo mundo parece concordar, tem a ver com o fato de que Mbeki parece ter centralizado o poder e não consultado o suficiente, fato que agravou as tensões no partido, o que foi visto como divorciado da assembléia de membros. Em Segundo lugar, o que muitas lideranças dentro do ANC parecem rejeitar, é que os delegados sentiram que a transição com Mbeki parecer ter desproporcionalmente beneficiado os ricos e trabalhado para a desvantagem do pobre. Eles estavam preocupados com as desigualdades que definiram os 13 primeiros anos de nossa transição, e o enriquecimento da elite pouco politizada o que transformou-se num emblema de nossa agenda negra de empoderamento.
Como explicamos isso? Como explicamos este estilo de gestão centralizada e essa agenda econômica exclusivista? Muitas das explicações são aquilo que se chama ‘focada agencialmente’. Eles explicam o estilo de governança ou a agenda econômica com um produto de Mbeki e de sua personalidade. O recente livro de Xolela Mangcu, To the Brink, e a biografia de Mbeki por Mark Gevisser, The dream differed, são exemplos disso. Para Givesser, que apresenta a mais sofisticada dessas explicações, o estilo centralizado de governo e um produto de uma personalidade que cresceu numa terra de ninguém – num entre lugar, entre o rural e o urbano, entre o modernismo e o tradicionalismo, entre o pai e o camarada, entre o nacional e o internacional. Isso afetou profundamente Mbeki, gerando uma personalidade arriscada que acabamos por conhecer, definindo pois, tanto sua orientação tecnocrática e uma gerência centralizada de sua presidência. Mas isso não e uma explicação abrangente. Ela não reconhece a questão dos constraints institucionais, e aqueles indivíduos, que embora poderosos em suas personalidades, são constrangidos pelas posições que ocupam e as pressões a que são submetidos a. Nas palavras daquele maligno filosofo Karl Marx que escreve no 18º Brumário de Luis Bonaparte : “Os homens fazem sua própria história, mas eles não o fazem do jeito que querem, eles não o fazem em circunstâncias escolhidas por eles mesmos, mas sob circunstâncias diretamente encontradas, dadas e transmitidas pelo passado”. Uma explicação mais coerente, quem que olhar sistematicamente para tanto as escolhas políticas macro-econômicas e a centralização do poder sob Mbeki. Quando o ANC veio ao poder em 1994, ele confrontou-se com um número de pressões.
Ele herdou um estado quase falido, foi confrontado com um conjunto de expectativas ambiciosas do anteriormente desenfreado e de uma greve de investimentos pela comunidade executiva de negócios. Para manter o investimento e o crescimento em ritmo, a liderança do ANC sentiram que eles teriam que fazer uma série de concessões econômicas, muitas das quais foram capturadas na estratégia do Growth, Employment and Redistribution (GEAR). Tão logo eles tomaram a decisão, eles se confrontaram com um outro dilema: como ter o programa aprovado, porque eles temiam que seus próprios camaradas na legislatura nacional fossem derrotá-lo? Então, eles passaram por cima as estruturas democráticas que eles tinham inaugurado. Eles endossaram o GEAR no gabinete e implementaram-no. Isto estabeleceu a dinâmica centralizadora no sistema político sul-africano. A partir dai, foi um pequeno passo para indicar premiers e prefeitos, e marginalizar COSATU (Congresso dos sindicatos sul-africanos), o SACP (Partido Comunista sul-africano) e outros que discordavam de Mbeki no que concerne às tomadas de decisão do partido e do estado. Ainda que isso explique a arquitetura da política de Mbeki e o estilo de gerir, e a inimizade dirigida a ele por COSATU, pelo SACP, e muitas ramificações do ANC, isso não nos diz porque de repente em 2007 ele foi incapaz de derrotar Jacob Zuma, seu deputado na liderança do partido e o homem que ele demitiu como presidente do estado em 2005 por estar implicado num julgamento por corrupção de Shabir Shaik. Ainda que Polokwane representasse uma rebelião dentro do ANC , a escala da derrota sugere que uma significativa proporção dos apoiadores de Mbeki o abandonou. Como isso foi possível?
A DESFEITA DO REI FILÓSOFO.
Talvez a resposta resida na natureza da sua base de apoio. Apesar do que dizem de fato, a base de apoio de Mbeki (como distinto do ANC) nunca foram os pobres e marginalizados. Isso tem sido uma reserva do campo de Zuma. Tal como Mark Gevisser argumenta convincentemente, a base de apoio de Mbeki tem sido a intelligentsia, e as classes médias urbanas e altas, tanto pretas como brancas. E eles, especialmente o componente negro, constituem uma significativa proporção de ativistas e lideranças de base do ANC. E este grupo que abandonou Mbeki, não somente no ANC, mas mais amplamente na sociedade. Vá para qualquer partido freqüentado por jovens negros profissionais em nossos centros urbanos e a mesma mensagem e ouvida: “Mbeki traiu tudo o que nos sustentávamos”. Ha também a mensagem refletida nas pesquisas de opinião, que mostram uma baixa espiral na base de apoio do ex-presidente.
O que aconteceu ? Por anos eles foram a base de apoio da administração de Mbeki. Ainda quando eles discordavam com uma ou outra política de Mbeki, ele ainda era seu filósofo e presidente. Eles eram orgulhosos do fato de que ele podia andar em Londres ou em Nova Iorque e estar com políticos estrangeiros. Ele representava a modernidade Africana, orgulho de suas raízes, mas cosmopolita em orientação, um político nacional e um homem de estado global, seguindo uma agenda econômica liberal, com uma retórica política socialmente progressiva. Ele representava uma versão do sonho de uma classe média Africana global. Porque eles o abandonaram? A resposta mais simples e que nos anos recentes, sua pratica e seu comportamento traíram suas esperanças e visões. Para eles, a África do Sul deveria ser uma democracia social, cosmopolita a moderna. Obviamente que esta visão era muito estreita, pois as únicas pessoas que realmente poderiam desfrutá-la eram as classes médias e altas da nossa sociedade. Para a vasta maioria dos pobres não havia nada de cuidado e social em nossa democracia.
Entretanto, apesar da estreiteza deste sonho, ele de fato galvanizou a imaginação dos privilegiados ou pelo menos , dos relativamente privilegiados que viraram a base de Mbeki. Ainda assim, foram eles que agora o abandonaram, sentindo que suas visões foram seriamente traídas nos anos recentes. Três desenvolvimentos pontuaram esta visão. Primeiro, nos últimos 2 ou 3 anos, houve uma crescente percepção na sociedade de que Mbeki era incapaz de simpatizar com cidadãos comuns. Os dois exemplos mais dramáticos disto foram as crises na saúde e crime. No primeiro caso, quando escândalos saíram sobre a qualidade do cuidado no Hospital Mount Frere e as mortes dos bebês em Prince Mashini, a resposta imediata da administração de Mbeki foi uma capa. As pessoas que levantaram a história e os líderes que levantaram o desafio sobre isso foram reprimidos, admoestados e até mesmo, despedidos. Uma caça às bruxas foi a ordem do dia, e a liderança política levada pelo presidente e o então Ministro da Saúde, Manto Tshabalala-Msimang, foram condenados. O então Ministro da Saúde, Nozize Mdlala-Routledge, quem levantou o desafio, foi o primeiro a ser reprimido, subsequentemente demitido. Em lugar de simpatizar com a falha do serviço de saúde e com as mães que perderam seus filhos, Mbeki e Tshabalala-Msimang enfiaram as suas cabeças na terra, negando que algo estivesse errado com o sistema público de saúde.
Similarmente quando confrontado com a questão sobre crime numa entrevista na SABC alguns meses atrás, sua fala foi que o problema esta sendo super dirigido, exacerbado. De fato, na mesma entrevista, ele argumentou que alguém poderia andar no parque Auckland sem medo de ser assaltado ou atacado. Não apenas a sua total ignorância sobre as condições do Auckland parque e muito sobre o resto do país, mas isso também fez com ele diminuísse a seriedade do problema do crime e violência. No lugar de levantar o desafio e de simpatizar com as vitimas de assassinato, estupro e assalto, Mbeki recusou em entender os medos do seus cidadãos, ao contrario, acusando-os de serem agentes ativos na sequência de uma agenda de dogmatismo racial. De novo, não houve simpatia pelas vitimas, mas uma imediata resposta a negar a realidade social. Este comportamento assinalou um líder incapaz de empatia e seriamente sem tato em lidar com a população. Em Segundo lugar, ha uma crescente percepção que as instituições estatais estavam sendo manipuladas para ganhos políticos pessoais. Obviamente que este tem sido o desafio que Zuma levantou contra Mbeki ha algum tempo. COSATU, o partido comunista e Jacob Zuma argumentam que a Autoridade Persecutória Nacional e outras instituições tem negado os oponentes políticos de Mbeki. Inicialmente, isso foi tratado, no mínimo no domínio público, com um grau de ceticismo popular. Mas o comportamento de Mbeki, e daqueles em sua volta sugeriu crescentemente que esta culpa foi totalmente infundada.
O processo envolvido na acusação da diretoria do SABC, por exemplo, violou os protocolos legítimos e democráticos quando foi revelado que MP foram instruídos a apontar um conjunto de indivíduos indicados por Luthuli House. Similarmente, a demissão de Vasu Piloli criou ondas políticas por que isso foi visto como um meio de proteger Jackie Selebi. Ambas decisões foram interpretadas como exemplos onde o presidenta manipulava as tomadas de decisão em instituições estatais a serviço de próprios fins políticos. Finalmente, e relacionado ao acima, houve uma percepção espalhada do comportamento maquiavélico de Mbeki, refletido em sua defesa por aqueles próximos a ele, enquanto lidava severamente com oponentes, o que estava altamente fora de questão de acordo com as regras democráticas.
De novo, houve dramática evidência disto nos últimos aos de reinado de Mbeki. Mbeki demitiu Jacob Zuma, enquanto recusou de fazê-lo no caso de Jackie Selebi, embora a alegação contra o ultimo fosse tão séria quanto a do outro. Similarmente, ele saiu do caminho ao defender um ministro da saúde incompetente que trouxe o partido quando o povo em falta de reputação, enquanto demitia um ministro popular que defendia o interesse das vítimas de HIV/SIDA e os pobres e marginalizados. Estes incidentes dão créditos a COSATU e ao SACP e a muitos dentro do ANC culpam o presidente de ser inconsistente na aplicação das regras, e realmente usou sua posição para influenciar a contestação política que deveria ser o recheio de uma democracia política. No limite, estes acontecimentos expuseram a falácia de uma visão de “uma sociedade de cuidado e resposta social democrática” que no meio das classes altas e médias ancoraram essa transição.Sentindo-se traídos, eles viraram-se contra Mbeki. Ele era agora visto com um autocrata, não o democrata que eles apoiaram. Ele era visto então como um manipulador, não o político astuto e empreendedor que ele endossaram.
Ele foi visto com aquele que vira as costas pra aqueles próximos a ele, não o político resoluto que está firme contra as forças do populismo. De fato, a imagem popular de Mbeki no final de 2007 era de um político vingativo. Ele era visto como a causa de suas próprias infelicidades. E como estas camadas sociais viraram-se contra ele, então deixaram-no vulnerável a lista crescente de políticos vitimas de Mbeki que ele acumulou em sua subia ao poder. Logo, este e o grande sucesso de Jacob Zuma: o apoio a Thabo Mbeki entre as classes altas e médias da sociedade sul Africana.
POLÍTICA E GOVERNABILIDADE SOB JACBO ZUMA
Mas como será o mandato político de Zuma? Se dinâmicas sistemáticas levaram a centralização de poder e as escolhas políticas da África do sul, estará o ANC sob Zuma , ou o pais sob Zuma e seus indicados, num caminho diferente?
??No fronte político e econômico, há poucas possibilidades de mudanças. Vale a pena ter em mente que a política econômica tem mudado gradualmente sob Thabo Mbeki nos últimos anos. A privatização não e mais uma prioridade nacional como for nos anos 90. Tem havido um aumento significativo no financiamento social desde 2001 , de modo que 12 milhões de pessoas, um quarto da população, recebem tal ajuda. Alem disso, o orçamento para saúde e educação tem aumento nos últimos anos. Mais, a África do Sul tem o maior programa de investimento em infra estrutura levado a cabo pelo Estado, algo em torno de 400 bilhões de Rands. Isso será suplementado por outro investimento publico, em torno de 1.3 trilhões do setor de energia nas próximas duas décadas. A retórica oficial agora fala de estado de desenvolvimento e não do mercado tal como foi laudeado alguns anos atrás. Obviamente que esta mudança não é incontestada. De fato, a arquitetura política existente na África do Sul e muito contraditória. Há setores significantes dentro dela que tem um sabor desenvolvimentista, Keysiano e social democrata, especialmente quando se trata de bem-estar social e gastos com infra-estrutura. Ainda assim, tem fortes continuidades com a grade do GEAR ( Grouth Employment and Redistribution), particularmente refletidas nos rígidos acordos co Banco de Reserva e Tesouro, no que tange aos alvos de déficit e inflação.
Este conjunto de contradições na política da África do Sul deve ser resolvida. A disputa entre o DTI ( Departamento de Comercio e Indústria) e o Tesouro deve ser resolvida em favor do primeiro. O Banco de Reserva deve ser incluído, e tornado mais economicamente secular e pragmático ao aumentar seu mandato e cuidar do emprego. Mais importante, o foco coletivo deveria mudar e mirar na crise de emprego. Isso significa essencialmente estratégias de industrialização capaz de absorver largas quantidades de trabalho nao-especializado ou semi-especializado. Valeria a pena reconhecer que nenhuma quantidade de treino vai transformar cidadãos privados de escolaridade e fazê-lo empreendedores capazes de competir com sucesso numa economia global. Isto dado, nossa estratégia econômica deve ser multifacetada e seqüenciada. Algumas de nossas políticas devem ser direcionadas ao emprego de novos graduados no setor produtivo de uma educação pos-apartheid. Mas uma quantidade significativa delas deveria ser direcionada a estabelecer setores industriais capazes de absorver desempregados nao-especializados ou semi-especiaizados que foram jogados for a durante a primeira década de nossa transição. Gradualmente, então, uma vez que a situação do desemprego torna-se estabilizada, os negócios e empreendedores deveriam estar prontos a progredir até a corrente de valor.
SÃO RUINS TODOS OS TIPOS DE INCERTEZA?
E sobre o futuro da África do Sul? Um número de apostadores domésticos, incluindo negócios, por algum tempo expressaram seu inquietamento sobre o clima de incerteza que prevaleceu desde Polokwane. Agora eles estão ainda mais preocupados dado a troca formal dentro do ANC e da decisão por antigas lideranças no campo de Mbeki – Mosiuoa Lekota, Sam Shilowa e Mluleki George – a laçar um partido político rival. As pessoas tem receio de que assuntos domésticos e negócios externos serão deixados de lado por investimentos, se a constituição será mudada , se a corrupção continuará e em alguns casos extremos, se estamos a beira de uma guerra civil. Obviamente que alguns desses medos emanam de percepções racializadas do sistema político na África do Sul e suas elites. Mas , ele emana principalmente de pessoas decent4es que tem o melhor interesse pelo pais e suas famílias no coração. E o que eles querem saber e se Polokwana e a troca no ANC e as incertezas que isso gerou, ira desmembrar o potencial nacional da África do Sul para um futuro mais atrativo. No limite, deve ser questionado se todas as forma de incertezas são necessariamente ruis para o país. Alguns anos atrás, o jornal acadêmico Democratisation publicou um artigo do cientista político, Adreas Schedler, que levantou a distinção entre incerteza institucional e incerteza substantiva. Incerteza institucional – a incerteza sobre as regras do jogo – fala de assuntos da legitimidade do estado das instituições e implica na vulnerabilidade do sistema democrático frente as forcas antidemocráticas. Incerteza substantiva – a incerteza que vem do jogo – trata-se de percepções da elite política que governam num sistema democrático sobre se eles retornarão aos seus escritórios. Ela também fala das elites econômicas e seus medos casos elas possam apenas reproduzirem-se dentro de padrões antigos.
A primeira – a incerteza institucional – e ruim para a democracia e levanta o prospecto daqueles que foram derrotados numa disputa normal das eleições e não aceitam o resultado e tentam burlar, quebrar o sistema. A ultima, a incerteza substantiva – e boa para a democracia e manter os políticos em seus lugares e faz deles responsáveis pela cidadania. O propósito fundamental da democracia é fazer com que as elites contém para a cidadania. Este e o único caminho para efetivar não apenas a participação do publico, mas também para garantir uma trajetória desenvolvimentista visando o interesse dos cidadão, incluindo a maioria dos marginalizados e os despossuídos. Tal postura esta fundamentada na emergência de um sistema político de incerteza.
Neste sentido, a incerteza substantiva é a essência da democracia. Porque muito da transição da África do Sul, tal incerteza falta em seu sistema político. Os partidos de oposição, localizados onde estavam na minoria do pool eleitoral, não tinham esperança de ameaçar o ANC nas pesquisas, e a elite política no ANC poderia ocupar seus escritórios políticos com garantia. Isso ameaça a arrogância com que algumas vezes eles demonstram em problemas como por exemplo sobre arma, corrupção e crime. Isso permitiu que Mbeki marginalizasse críticos como COSATU e o Partido Sul Africano Comunista ( SACP) dos corredores das tomadas de decisão e de poder. O que também habilitou o governo a adotar uma agenda política macroeconômica que fosse a marca dos primeiros anos de administração.
A subseqüente oposição do COSATU e do SACP, sua mobilização contra Mbeki, e mais tarde contra Jacob Zuma, e a revolução institucional que eles lideraram com outros em Polokwane deve ser acreditada por introduzir uma incerteza substantiva no sistema político. Isso abriu espaço político e criou um debate sobre vários aspectos da vida política, desde AIDS a política econômica. Caso essa incerteza substantiva nunca tivesse sido introduzida no sistema político, a África do Sul nunca teria revisto sua política sobre AIDS, por exemplo. Nunca teria mudados suas políticas econômicas. A África do Sul nunca teria milhões de pessoas recebendo bolsas, e nunca teria visto tanta mudança no desenvolvimento econômico. Como resultado, a África do Sul nunca teria visto tanto progresso no alívio da pobreza tal como visto nos últimos anos. Mas, tal como eu argumentei num debate com Aubrey Matshiqi e Steven Friedman no Instituto de Estudos sobre Segurança (ISS) em setembro de 2006, esta abertura e vulnerável e improvável de sustentar , enquanto ela estiver baseada na disputa entre dois líderes do partido dominante. Para que seja verdadeiramente sustentável, a incerteza substantiva deve ser institucionalizada no sistema político com um todo.
Agora, pela primeira vez, prospectos reais deste acontecimento emergiram. Como tem sido freqüentemente argumentado, o potencial para uma oposição política parlamentar nunca fora lançada na rampa dos partidos oposicionistas. Seria somente realisticamente possível se o ANC mudasse. Enquanto muitos analistas antes de Polokwane, incluindo eu mesmo, acreditavam que isso emergiria com a saída do COSATU e do SACP do ANC, agora parece que isso esta a caminho pelo direito ao centro político, alguns derrotaram os ‘Mbekitistas’ que decidiram que seu futuro político baseia-se numa oposição parlamentar independente. Ainda assim, que a emergência de uma oposição parlamentar viável não possa ser garantida mesmo que saia de dentro do partido no poder. Tem havido mudanças similares anteriormente, mas todas desapareceram. Entretanto, nenhuma levantou-se a partir de fissuras profundas e serias dentro do ANC, e nenhuma tive tantas figuras coletivas nacionais. Não obstante caso esta iniciativa política seja um atos significativo e sustentável, então isso terá que ultrapassar sérios desafios. Primeiro, isso irá requerer gastos financeiros sérios e profundos. Shilowa indicou que isto não será um problema, e o rumor na África do Sul sugere que num numero considerável de gigantes da BEE (Black Economic Empowerement), Saki Macozoma, Mzi Khumalo e Khaya Ngqula incluídos, estão apoiando esta iniciativa. Ainda que isso seja verdade, entretanto, a questão tem que ser perguntada e seu esses empreendedores BEE estão lá para o longo desafio que esta iniciativa requer para ser de sucesso.
Em Segundo lugar, o lançamento bem sucedido desta alternativa política requer uma infrastrutura organizacional nacional. No passado, Lekota, Shilowa, e outros tentaram trabalhar fora da base institucional do ANC, que esclarece porque a liderança se moveu assim rapidamente para a isolar. Mas agora isso está em suas próprias mãos, o sucesso da iniciativa depende de quantas filiais e as províncias jogarão com seu quinhão. No presente, parece que eles terão alguma inserção no Leste, Norte e Cabo Oeste. Além do mais, entretanto, ele precisarão de pelo menos uma presença significativa no estado Free, Gautentg, Limpopo, Mupumalanga, North West e uma pequena existência em KwaZulo-Natal se quiserem ser percebidos com atores políticos sérios a nível nacional. Em terceiro lugar, a iniciativa política precisaria ser apoiada por uma maior corrente de figuras políticas nacionais. Lekota e Sholowa são formidáveis atores políticos em si só. Mas, a iniciativa teria um amplo destaque se Mbeki fosse publicamente dar sua bênção e apoio, o que e improvável de acontecer num curto espaço de tempo. Isso dado, um maior espectro de figuras no campo de Mbeki devem ser vistas como apoiadores desta iniciativa, não apenas para que isso não seja visto como uma tentativa de desmantelar líderes políticos que querem o poder, m as também se quiser ter o pedigree da libertação que seja necessário se ele quiser ter legitimidade dentro da população.
Finalmente, a alternativa política tem que ir além das personalidades e enraizar-se em uma agenda política distinta. No passado, foi apresentado como uma separação forçada por diferenças da personalidade ou alguma infelicidade com a liderança do ANC, porque não compartilharam equidade com os ganhos do escritório. Obviamente isto vem como uma ruptura entre elites políticas avançar seus próprios interesses e coloca a iniciativa aberta à cargo, que está sendo dirigido pelos políticos ambiciosos que não podem vir aos termos com o resultado de processos democráticos do partido interno. Se for ir além deste, então, a alternativa política tem que enraizar-se em um programa da política e em um registro de trilha distintos daquele reivindicado pela liderança de Zuma dentro do ANC.?
Talvez, entretanto, o maior prospecto para esta iniciativa esteja nas mãos da atual liderança do ANC. Isso pode parecer uma estranha conclusão a se chegar, mas vale a pena notar que o desafio político somente tornou-se uma realidade por que as lideranças existentes subestimaram as conseqüências de tirarem Mbeki do escritório, da posição. Se uma atitude triunfalista continuar a prevalecer dentro da liderança do ANC pós-Polokwane, e pontes suficientes não forem erigidas entre os dois campo dentro da organização, então uma alternativa política e provável de crescer somente se “dissidentes” não tiverem outra alternativa.
Parece, de fato que líderes com Kgalema Motlanthe e até mesmo Jacob Zuma estão conscientes da ameaça, mas ha também uma forte tendência dentro da liderança que responde ao desafio e à contestação com expulsão e advertências. Obviamente que um balanço deve ser mantido entre a manutenção da pluralidade política e não habilitar indivíduos a usar as estruturas de sua organização contra elas mesmas. Mas se um balanço apropriado não for atingido, como parte ser o caso corrente, então a liderança deve estar precipitando as condições para que ela seja seriamente contestada nas eleições. Tal desafio também será facilitado pelo comportamento da atual liderança do ANC.
Estes mesmos atores políticos que tiveram tal papel importante apenas um ano atrás, pela introdução da pluralidade política e por conseguinte, pela incerteza substantiva, agora começaram a tomar decisões e a comportar de maneiras que introduzem a incerteza institucional no sistema político. Eles atacaram o NPA, as cortes, e também juízes individualmente. Como resultado, eles começaram a deslegitimizar as instituições de justiça e outras estruturas do estado. Alguns de suas afirmações inflamadas sobre mortes caso a corte não encontre em seu favor não apenas engendra uma cultura de violência, como também mina o papel da lei.
Também, a decisão da nova elite política em continuar a ameaçar posições do estado como espólio de Guerra, a ser usada pelos vencedores de Polokwane, mancha a divisa entre partido e estado e mina as fundações da democracia. Enquanto algumas dessas decisões e comportamentos pode servir a seu objetivo num curto espaço de tempo, e a objetivos igualmente individuais, isso voltará a assombrar no futuro quando eles ocuparem o escritório político. E necessário manter em mente que desenvolvimento econômico, prestação de serviço e alívio da pobreza são dependentes de uma capacidade estatal legítima. Comportamentos que destroem a legitimidade e a capacidade das instituições do estado irão comprometer a nova elite política ela mesma quanto a objetivos de logo prazo. Além do mais, pode também alienar eleitores potenciais do ANC.
Enquanto que anteriormente esta liderança podia permanecer complacente, isso não mais será o caso se Lekota e Shilowa conseguirem sua política alternativa da base. Talvez esta seja a maior contribuição que Lekota e Shilowa legarão à África do Sul. Ao criar uma alternativa política, enraizada em toda população, as elites políticas não mais poderão ter como garantidos os cidadãos do país. E, nisto reside o potencial para o fortalecimento de uma democracia de crédito na África do Sul.
*Adam Habib é professor de Ciência Política e vice-chanceler da Universidade de Johannesburg.?
*Traduzido por Alyxandra Gomes Nunes
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