Eleições legislativas em Cabo Verde: Janira Almada supera adversários no primeiro debate público
Naquilo que foi o primeiro debate público antes da realização das eleições legislativas em Cabo Verde, a candidata do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Almada, superou seus adversários, todos do sexo masculino, demonstrando domínio do seu programa de governação com postura, inteligência e lucidez. Janira Almada provou ser forte, assertiva, inteligente, corajosa e portadora de um profundo sentimento de comprometimento com as causas e as consequências do processo de desenvolvimento destas ilhas.
Cabo Verde ficou surpreendido com o desempenho da candidata do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada (JHA) durante o debate realizado pela Televisão de Cabo Verde (TCV), na última semana de Fevereiro. No acto, que tinha como propósito a apresentação do programa político que cada concorrente pretende apresentar ao eleitorado nas eleições do dia 20 de Março, estiveram também no debate Ulisses Correia e Silva (UCS), presidente do Movimento para Democracia (MpD), António Monteiro (AM), presidente da União Cristã, Independente e Democrática (UCID), João Além (JL), presidente do Partido Social Democrata (PSD) e Amândio Barbosa Vicente (ABV), presidente do Partido Popular (PP).
Foram duas horas de conversa que serviram para evidenciar a supremacia da única mulher envolvida nesta corrida em relação aos demais concorrentes. JHA mostrou melhor preparação para governar o país. A sua postura, inteligência e lucidez durante o debate deu a conhecer a/os cabo-verdiano/as uma mulher preparada, técnica e psicologicamente, para dirigir o país, sem quaisquer sobressaltos ou timidez.
Uma mulher forte, assertiva, inteligente, corajosa e portadora de um profundo sentimento de comprometimento com as causas e as consequências do processo de desenvolvimento destas ilhas.
Se dúvidas houvesse, o debate deste final de Fevereiro, quando o país ainda se encontra em pré-campanha, dissipou-as de uma vez: de todos os partidos concorrentes às próximas eleições, o PAICV, sob a batuta de JHA, é o partido que mostrou reunir melhores condições políticas para dar seguimento ao processo de transformação de Cabo Verde.
Com efeito, JHA foi capaz de demonstrar um profundo conhecimento dos problemas do país e dos caminhos que devem ser trilhados para contornar os desafios e empreender a viagem rumo ao desenvolvimento. A presidente do PAICV, única mulher no meio de 4 homens, transmitiu confiança, determinação e uma visão clara do processo de desenvolvimento do país.
É voz corrente que JHA derrubou os 4 homens – UCS, AM, JL e ABV – logo no primeiro round, quando mostrou, com dados concretos, as linhas com que se cosem a administração e a liderança de um país arquipelágico, insular, desprovido de recursos naturais, porém considerado por organizações internacionais como o segundo país melhor governado do continente africano.
Um país cujo orçamento é financiado pelas organizações internacionais em 70%, mas que, no entanto, consegue realizar o seu projecto e programas de desenvolvimento porque goza de grande credibilidade internacional, fruto da boa governação e de um inteligente critério de alocação de recursos. Um país cujas instituições democráticas funcionam e os resultados falam por si e foram apresentados pela presidente do PAICV.
De facto, os eleitores estão perante um país que conseguiu triplicar o seu PIB, nos últimos 15 anos, e que conheceu um boom de investimentos públicos sem precedentes – estradas, aeroportos, portos, barragens só para citar os mais importantes – para além da promoção do ensino superior, da formação profissional, da habitação social (Casa para Todos), da segurança social e da pensão social mínima.
Cabo Verde ficou surpreso, sendo um país de matriz patriarcal, onde a mulher é vista sempre como pertencente ao espaço privado ou ao espaço público não-político. Aqui o papel de direcção é reservado ao homem, onde as relações de género definem as balizas e as fronteiras onde cada um deve circular e se realizar enquanto pessoa e enquanto ente social.
Surpreso porquê? Primeiro: porque, as pessoas estão habituadas a não reconhecer certas capacidades às mulheres. Ou porque não querem, ou porque resistem, ou porque são exigidas a pensar assim, por forças externas e internas que se emanam do respirar social. Segundo: porque as pessoas esperavam de uma melhor prestação do UCS, que é o adversário directo da JHA. Homem com algum percurso político e profissional – foi ministro das Finanças na década de 90, e hoje é presidente do maior município do país, a Praia – as pessoas esperavam do UCS mais domínio do seu próprio programa de governação. Pouco convincente, UCS parecia perdido no seu próprio monólogo.
Mesmo no seio do MpD é consensual que UCS esteve muito mal, sobretudo quando se sabe que dirige um partido com ambições de governação, um partido que já foi governo e que hoje, com 15 anos de oposição, não consegue convencer o/as cabo-verdiano/as com um programa credível de alternativa à governação do PAICV.
No entanto, a prestação do UCS não está longe de um dos slogans do seu partido, que é de um amadorismo e irresponsabilidade tremendos: “15 anos é muito, agora é Ulisses”. Como é possível levar UCS a sério, se ele e sua equipa nem sequer estão preocupados em pensar o processo de desenvolvimento do país, escudando-se na lógica de que, depois de 15 anos de governação, o/as cabo-verdiano/as devem mandar o PAICV para a oposição, assim de graça, sem mais nem menos.
O que é isso, para além de uma grande irresponsabilidade política do MpD e do seu líder UCS? Sabe-se que em democracia ganha quem consegue fazer melhor. E este primeiro debate veio baralhar as cartas para mostrar claramente quem deve ganhar a partida.
De facto, o debate serviu de palco para JHA mostrar ao que veio, e o que ela falou e disse acabou alavancando a auto-estima de Cabo Verde, pois as suas ideias e programas não deixam dúvidas – Cabo Verde poderá ganhar uma primeira-ministra competente. JHA poderá ser a primeira mulher a dirigir os destinos de um país que tem sido um exemplo da boa governação em África, pois ela manifesta-se como um fenómeno político de grande relevância nos últimos anos em Cabo Verde.
*Carla Carvalho, socióloga, docente na Universidade de Cabo Verde e doutoranda em Estudos de Desenvolvimento no ISEG/Universidade de Lisboa, especialista em género e pesquisadora na área do género e desenvolvimento.