Blogueiro comenta as tendências do mundo masculino e do estilo para negros
De black power, calça justa, blusa preta com estampa floral, coturno, pulseiras, alargador e anéis de caveiras, José Carlos Angelo — ou melhor, Jota — mostra que a moda está costurada à sua personalidade. De fala mansa, conta que aos 12 anos interessou-se por estilo e roupas, graças à melhor costureira que conheceu: Rosana, sua mãe.
De black power, calça justa, blusa preta com estampa floral, coturno, pulseiras, alargador e anéis de caveiras, José Carlos Angelo — ou melhor, Jota — mostra que a moda está costurada à sua personalidade. De fala mansa, conta que aos 12 anos interessou-se por estilo e roupas, graças à melhor costureira que conheceu: Rosana, sua mãe.
— Ajudava nos remendos, nas barras e nos ajustes. Dos três filhos, era o único que gostava desse mundo — lembra Jota, de 27 anos.
No ensino fundamental, personalizava o uniforme da rede pública tingindo e rasgando as calçadas. No médio, fazia bolsas de pano para vender. Sem condições de bancar uma faculdade de moda, começou a estudar seu segundo amor: a língua portuguesa.
decoracao-blogueiro-moda.
Mas a moda já estava desenhada em sua vida. Sem conseguir evitar os desenhos de roupas no fim do caderno e a preocupação com o estilo, o jovem criou o blog “O último black power” para expressar suas ideias e seu estilo.
— Eu adorava ler blogs de moda e estilo de rua. Comecei a ter vontade de escrever também, então criei o meu — conta.
Abordando tendências do mundo masculino e afro, o blog já tem mais de 10 mil seguidores.
— Temos poucos espaços falando sobre esses temas — ressalta o blogueiro: — Pesquiso muito em sites estrangeiros para publicar os textos. Faço três por semana.
São as ruas que mandam grafite-negros-tendencias
Na primeira fase do blog, em 2009, Jota apostava em produções próprias, como pode ser visto na postagem inaugural, em 15 de agosto daquele ano. Para o blogueiro, o essencial não é mostrar o que acontece nas passarelas e sim o que as ruas estão ditando.
— Eu não sabia mexer direito nas plataformas digitais. Colocava a câmera em cima dos livros para fotografar minhas roupas… — comenta: — Quero mostrar opções viáveis para se vestir de forma estilosa sem sair no prejuízo, sem pesar no bolso.
Durante toda a faculdade, Jota desenhava, grafitava e produzia bolsas para as colegas de classe. Com o sucesso dos acessórios, chegou a vender em bazares de São Paulo.
— As bolsas vendiam muito e eu publicava sobre elas no blog. Assim, recebia convites para participar de bazares — lembra.
O primeiro nome do blog era “Eu vou assim homens”, inspirado em um blog feminino:
— Eu me inspirei em um portal que acompanhava as tendências — diz ele, que mudou o nome para o atual há dois anos.
Viver do que ama: um desafio para o bolso
Apesar de a mãe de Jota ser do mundo da moda, ela sempre cobrou que o rapaz tivesse um emprego estável. Ao concluir a faculdade, Jota
estava fazendo sucesso com a venda de bolsas, mas não tinha como viver só disso. Ele conquistou duas vagas no serviço público, uma no estado e outra no município:
— Eu queria viver só de moda, mas ainda não é possível. Trabalho no blog por amor mesmo.
Na hora de criar os textos para o blog, Jota curte ouvir música, principalmente hip hop. Colocando os negros como protagonistas de suas publicações, Jota tenta desmistificar a forma como as pessoas geralmente veem esse público.
— O negro está sempre relacionado à pobreza, marginalidade e coisas ruins. Na moda, mesmo quando o tema é afro, você encontra só um ou outro modelo negro — completa, ressaltando: — Há tanta riqueza nos negros. É tão difícil achar informações, pesquisas sobre o negro no mundo da moda. Temos que investir mais.
Marca própria será lançada até julho
A arte e a criatividade estão espalhadas por todos os cantos na casa de Jota. Na sala, paredes pretas com pinturas, cadeiras estofadas com quadrinhos (feitas por ele), além de uma mistura de livros de moda e literatura.
— Minha produção é feita aqui, preciso de um ambiente com meu jeito. Saio da escola e venho trabalhar no blog, nos desenhos — comenta o artista.
Em um quarto antigo da casa, o blogueiro montou um pequeno ateliê. Dedicado, Jota está focado em um novo projeto: sua marca de roupas masculinas.
— Quero colocar o nome “Snipper”. Sempre foi meu sonho ter uma marca e tentei uma vez, mas a sociedade não deu certo. Mas estou tendo muita fé agora. Minha intenção é ter uma lojinha online. Quero colocar no ar até julho deste ano — ressalta o blogueiro, que na hora de construir o seu estilo, gosta de roupas confortáveis e camisas listradas com um modelo na linha retrô.
*AS OPINIÕES DO ARTIGO ACIMA SÃO DO AUTOR(A) E NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE AS DO GRUPO EDITORIAL PAMBAZUKA NEWS.
* PUBLICADO POR PAMBAZUKA NEWS
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